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Publicado: Segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Dúvidas, invejas, trotes e celulares

Século IXX

- Pai, disseram-me lá na corte que estão inventando um aparelho que fala.

- Que absurdo é esse?

- Não sei não. Quando apareceu o telégrafo ninguém acreditava que sinais pudessem ser transmitidos através de um fio de cobre, no entanto o telegrafo está ai. O telefone é o mesmo princípio só que transmite a voz.

- Mas, afinal, quem foi que lhe disse isso?

- O professor

- Os professores não deviam ficar enchendo a cabeça de vocês com essas bobagens.

O pai teve que admitir que quem estava falando bobagem era ele, pois, pouco tempo depois o telefone já estava funcionando para ninguém por em dúvida sua veracidade.

Século XX

Lembro-me que uma vez uma colega levou a escola um telefone de brinquedo. Nada mais era que duas caixinhas ligadas por um fio de cobre e através do qual, com muito boa vontade se ouvia alguns sons emitidos a ocasionalmente dava para entender algumas palavras.

Todos ficaram com inveja da Catarina. Eu não era exceção à regra e quis porque quis um telefone também.

E então o meu irmão fabricou um com latinhas vazias e um fio de cobre. Funcionava tão bem quanto o da Catarina embora fosse mais rústico.

Na época, poucas pessoas possuíam um telefone. O comum era se dirigir a Central e usar o aparelho a ela anexo. Era caro e só se usava mesmo para casos especiais.

Mesmo quem tinha o aparelho em casa precisava pedir a ligação à Central Era complicado e o serviço muito precário.

Quando os primeiros telefones automáticos foram ligados foi uma festa!

Qualquer um podia adquirir por preço razoável um aparelho para ser instalado na sua casa e usado à vontade.

Com a novidade, todo mundo queria experimentar o brinquedo novo e começaram os trotes:

- Alo! Quem está na linha? Saia depressa que o trem vem vindo hahahahaha

- Aqui é da Cia de Luz e Força. Estamos fazendo um reparo e precisamos que desligue a energia por uns minutos.

Meia hora depois:

Pode ligar. Desculpe ter feito você perder o final do jogo! Qual! Qua! Qua!

- É do Corpo de Bombeiros? Venha logo que está pegando fogo na caixa d’água! Heheheheh!

E por ai afora. Divertiram-se até o dia que chegou a conta da Telefônica surpreendendo a todos pelo seu valor.

Os trotes diminuíram. Quando alguém se aventurava recebia a resposta irônica:

- Você comprou o telefone hoje?

Século XXI

Mas verdadeira revolução foi quando surgiram os celulares.

Os primeiros eram grandes, pesados, caros e só os adquiriram quem realmente precisava deles.

Rapidamente, porém. Diminuíram de tamanho e de preço chegando até as mãos da classe mais pobre.

Não há quem não possua um, nem que seja financiado em vinte prestações, mesmo que não tenha dinheiro para carregar.

E o que mais se ouve por ai é

- Ligue pra mim. Estou sem crédito.

O outro que pague!

Em contrapartida foram aparecendo aparelhos com mil e uma sofisticações, relógio, televisão, internet, câmera fotográfica.

Minha bisneta de oito anos já tem há muito tempo o seu celular. Quando lhe contei como era o telefone feito pelo meu irmão ela respondeu com desdém

- Credo Bisa! Como você era pobre! 

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