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Publicado: Quinta-feira, 19 de junho de 2008

É outro futebol

Sabe, aquele tempo de espera em rodoviária, quando você perde o ônibus e tem que aguardar o seguinte? É isso.
 
De algum modo ele pode ser aproveitado. E, nesse tempo, nessa circunstância, é que agora nasce a crônica.
 
Nasce?
Força de expressão.
Falta só achar o assunto...
 
Isso faz lembrar de quando se quer presentear alguém e, mesmo ao ocorrer mil idéias, sobrevém uma certa dificuldade pela escolha, justamente pelo excesso de possibilidades. Na redação de crônicas, - falou-se sobre isto mais de uma vez aqui, - pululam lembranças várias. Uma abundância de temas.
 
Por exemplo, dia 18, uma quarta feira, a penúltima de junho que corre célere para o fim, o assunto do dia é o futebol. Isso mesmo, o jogo entre Brasil e Argentina. Sabe-se lá o que vai acontecer. No momento da leitura do presente texto, os amigos estarão com a resposta, claro. Tomara que o Brasil tenha vencido.
 
Fique bem entendido pois que esta redação ocorre antes da realização dessa partida pelas eliminatórias.
 
Depois da conduta vexatória diante da Venezuela e do Paraguai, a mídia tem como certa a queda do técnico, se houver fisco de novo.
 
Mas no plano do subconsciente, desde que a gente se sentou à mesinha da lanchonete, na rodoviária, o fulcro do comentário recai sobre a impressão deixada nos matutinos da tv, sobre a chegada da equipe Argentina, muito quieta e que se evadiu do aeroporto pelos fundos. Ninguém, dos eventuais torcedores, por isso mesmo frustrados, viu qualquer integrante da comitiva, muit5o menos os jogadores.
 
E – pasmem – a tristeza foi maior para dois jovens brasileiros que, ali no aeroporto, aguardavam... os argentinos! Pode?
 
Entrevistados, com palavras que revelavam até certo desembaraço e recursos para bem se expressar, declararam, por serem amantes do futebol, que resolveram torcer doravante para a Argentina. E não apenas com respeito ao jogo da quarta com o Brasil. Sempre.
 
Justificaram-se, convictos e serenos, naquela decisão tomada por definitivo, que se o brasileiro tem alguma ginga, aos portenhos sobram garra, entusiasmo e amor à pátria. Quanto às equipes de futebol em particular, foram igualmente explícitos: passamos à condição de torcedores do Boca.
 
Esses moços, ao se mostrarem admiradores do futebol envolvente dos vizinhos, evidentemente que da fala dos dois se colhe uma crítica à displicência e desamor dos brasileiros pela camisa. Certamente ainda ecoa no recôndito da alma de todo torcedor, o fiasco brasileiro na Copa da Alemanha. Na mesma data em que o Brasil foi desclassificado pela França, os atletas saíram para uma noitada, madrugada afora.
 
É aí que a gente até se pergunta, se esses meninos estariam sendo incoerentes. Será? Para pensar...
 
É só observar, no cerimonial de abertura dos jogos, aos acordes do hino de cada país, que os brasileiros talvez nem conheçam a letra. Boca fechada, pelo menos, isso é notório. Eles, os outros – e aí nem só os argentinos – em geral entoam o hino com desenvoltura e entusiasmo.
 
Se alguém ainda duvida que o futebol daqui vai mal – mesmo diante de possível vitória ante os argentinos, - que se louve nos excepcionais jogos da Europa 2008, neste mês.
 
Futebol clássico, passes longos e certeiros, objetividade e um público apaixonado e bem comportado, diante do brilho de todos os espetáculos.
 
É outro futebol.
 
Poderia ser dito que o futebol europeu está para o sul americano como o profissional local estaria para aquele praticado na saudosa várzea paulistana. Com a diferença ainda, de que nesta, havia sim amor e garra.
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