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Publicado: Quarta-feira, 19 de setembro de 2001

e-commerce no Brasil

Os ensinamentos do pai da Internet no Brasil, Tadao Takahashi, são sempre elucidativas. Suas idéias e ideais continuam influenciando os rumos da Internet no país.
   A lógica do comércio eletrônico, segundo Tadao, subverteu o funcionamento dos mercados tradicionais ao assumir novas características: fácil acesso a informação, diminuição dos custos de transação, substituição dos intermediários tradicionais por novos tipos de agentes, que atuam na ponta da cadeia produtiva, junto ao consumidor final, fazendo eles mesmos toda a conexão com os produtores de bens e serviços; eliminação das distâncias físicas e funcionamento ininterrupto em todas as regiões do mundo. Como decorrência, produtos e serviços ofertados através das redes eletrônicas passaram a ter como foco tipos diferenciados de consumidores, que podem estar em qualquer ponto do planeta e, apesar da distância física, receberem tratamento personalizado.
   As transações efetuadas através de redes eletrônicas trazem vantagens tanto para os consumidores, quanto para as empresas. Os primeiros poupam tempo, ao evitarem deslocamentos físicos, diversificam suas opções de compra, ganham meios mais ágeis de realizar pesquisas de mercado e de preços e podem ter assistência técnica diretamente pela própria rede. As empresas vêem ampliadas suas chances de alcançar mercados no mundo inteiro, assim como reduzir os custos de suas operações comerciais e financeiras. A Internet torna-se também o meio mais barato de fazer publicidade e oferecer outros serviços, como aluguel, leilão, assistência técnica etc.
   A difusão dos negócios eletrônicos está modificando a estrutura das cadeias de suprimento, o conjunto de elos sucessivos entre produtores e compradores. Alguns elos de distribuição e varejo estão se tornando dispensáveis, em função das transações mais diretas entre os diferentes agentes econômicos, propiciadas pelas redes eletrônicas. Ao mesmo tempo, surgem novos intermediários, que atuam na distribuição de bens e serviços, através dessas redes.
   Quem acompanha o assunto pela grande imprensa tende a crer que a maior parte dos negócios gerados por comércio eletrônico está relacionada com produtos e serviços oferecidos ao consumidor final, na modalidade B2C. Nesse modelo se encaixam empreendimentos como o Amazon, Yahoo! e similares. É certo que efetivamente os empreendimentos B2C movimentam grandes receitas. Contudo, como ilustra o Gráfico 3.1, a parte maior de volume de negócios em qualquer país está em transações entre empresas, no modelo B2B.
   O Brasil ocupa a liderança do mercado de comércio eletrônico da América Latina, tendo transacionado US$ 450 milhões em 1999 (a maior parte na modalidade B2B), o que representou cerca de 88% do valor das transações realizadas eletronicamente pelos países latino-americanos.
   Das transações eletrônicas realizadas no país, em 1999, 88% foram realizadas por empresas da velha economia; e, no total, 42% são bancos e corretoras, que também ocupam os primeiros lugares no ranking das empresas que mais faturam na rede. Enquanto isso, apenas 5 empresas representantes da nova economia figuram na lista das 25 maiores em faturamento na rede, sendo três de hardware, uma de telecomunicações e uma de leilão. Entre as 450 lojas virtuais, os produtos e serviços mais vendidos são livros e CDs, computadores e acessórios, serviços de turismo, de corretagem, venda de automóveis, de flores e leilões.
   Para o ano 2000, estima-se que apenas 1% dos usuários da Internet no Brasil estará comprando em lojas virtuais, com média de gasto de 18 dólares mensais, estimando-se em 9 dólares o gasto per capita mensal em compras no país e o mesmo valor em compras no exterior. Em contrapartida, a estimativa para os Estados Unidos no mesmo período, é de cerca de 13 milhões de consumidores por mês, que gastam em torno de 400 dólares em compras online, ou seja, 40 vezes mais que os brasileiros.
   A precariedade da logística das empresas brasileiras de comércio eletrônico pode ser percebida no acompanhamento diário das seções dedicadas aos consumidores nos principais jornais. Queixas de mau atendimento, atrasos nas entregas e compras debitadas nos cartões de crédito sem a entrega da mercadoria figuram entre as mais comuns. Para superar tais limitações, algumas empresas vêm investindo muito em distribuição, principalmente na formalização de acordos para remessa de suas encomendas por meio de serviços de entrega realizados por empresas de comunicação de massa. Portais de comércio eletrônico estão fazendo uso de call-centers e de transportadoras para distribuição de mercadorias. As transportadoras mais sofisticadas permitem ao cliente acompanhar, eletronicamente, todo o roteiro de sua aquisição.
   No Brasil, ainda não há legislação relativa à regulamentação das transações efetuadas em redes eletrônicas. Também não existe proteção legal específica para o consumidor de bens e serviços disponibilizados nas redes eletrônicas. A tributação das transações de compra e venda de serviços efetuadas nessas redes é outra questão ainda não definida no país e, no que se refere às transações entre países, o estabelecimento de uma regulamentação depende de negociações a serem estabelecidas nos fóruns internacionais.
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