Educação e política

Ao assumir o compromisso de escrever publicamente, disse a mim mesma que evitaria a política como tema central dos textos. Primeiro, porque perdi a esperança nas ações públicas e governamentais. A política anda muito suja ultimamente. E segundo, porque estou absolutamente convencida de que é preciso mudar o homem para mudar o mundo. Por isso, as palavras que escrevo buscam a educação nos relacionamentos pessoais. Insisto, incansavelmente, no poder da educação familiar, que “começa em casa, onde precisam ser dadas as primeiras informações sobre o mundo, noções de postura e compostura, respeito, limites”, como diz a escritora Lya Luft.
Ocorre que mais uma vez, diante do período eleitoral, os candidatos à presidência da república usam e abusam de discursos a favor da educação. E isso me obriga a quebrar a promessa e abordar o tema.
É exaustivo o discurso de que a educação é o caminho para o crescimento econômico e para o desenvolvimento social. Não porque não seja, tenho absoluta certeza e segurança desse caminho, mas porque o discurso não encontra eco na prática. Por mais que se teorize, fabrique leis ou invente programas, a educação escolar continua fraca e distante dos resultados esperados. A média nacional do IDEB (Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica) é vergonhosa. Nossas escolas não conseguem ensinar e nessa hora não há campanha eleitoral que dê conta. Prova disso basta responder: aonde estudam, ou estudaram, os filhos da alta liderança política?
Frequentemente tomamos conhecimento de experiências, divulgadas pela mídia, de países que se fortaleceram e venceram seus desafios pelo caminho da educação. Finlândia e Coréia do Sul, entre outros, são provas dessa afirmação. Com isso sabemos não faltar modelos e caminhos trilhados. Aliás, não faltam também recursos financeiros. A arrecadação de tributos deste país é alta, altíssima: a ponto de nos tirar o fôlego.
O que falta então para que os discursos a favor da educação se concretizem? O que de fato impede a qualificação das escolas, sobretudo as públicas?
Não faz muito tempo a UNESCO divulgou o resultado de um estudo denominado “Repensando a escola: um estudo sobre os desafios de aprender, ler e escrever”. A pesquisa foi feita por amostragem em dez Estados, apenas em escolas públicas, com alunos da 4ª série, atual 5º ano, do ensino fundamental. O estudo, que desejava coletar informações necessárias para a execução de um plano de melhoramento, se colocou num mato sem saída: entre os professores entrevistados, quase 40% consideraram que, se um aluno não passa de ano, a culpa é dele mesmo. Outros 24% disseram que a culpa é dos pais. Apenas 2% reconheceram algum tipo de responsabilidade. Ou seja, o quadro que saiu dos estudos é desesperador: pouco se assume e muito se transfere. “É uma carga tremenda para uma criança. Uma situação em que os adultos se eximem da culpa e a transferem para o lado mais fraco. O aluno carrega a culpa por todo o fracasso. Desse jeito não se aprende, não se educa”, comenta Cândido Gomes, um dos autores do estudo.
Mas o quadro se amplia: dirigentes, governantes e políticos ao aplicarem as verbas da educação somente em recursos físicos e materiais transferem a responsabilidade do compromisso, do envolvimento, do desejo e do interesse pessoal aos bens de consumo. Lembro-me, com profunda tristeza, uma visita que fiz a certa pequena cidade do estado de São Paulo. Recepcionada pela entusiasmada Secretária da Educação fui visitar muitas escolas da cidade, onde ela me mostrou com orgulho e satisfação à aplicação da arrecadação tributária: panelas novíssimas e brilhando embaixo das pias de todas as cozinhas das escolas. Em outra cidade, as lousas digitais, caríssimas, enfeitavam as salas de aulas. Por isso os investimentos não dão certo. “Não sou contra a implantação de um computador em cada sala de aula neste reino das utopias, desde que, muito mais e acima disso, saibamos ensinar aos alunos o mais elementar, que independe de computadores: nasce dos professores, seus métodos, sua autoridade, seu entusiasmo e seus objetivos claros”, ainda Lya Luft.
A educação de qualidade se concretiza pela mediação do professor e pela liderança do gestor, portanto é neles que o investimento deve ser priorizado. Como se vê, mais uma vez, as respostas são simples. Dependem dos políticos, governantes, mas também de cada um de nós: felizmente somos nós que os escolhemos e os sustentamos.