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Publicado: Segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Entre risos e lágrimas

Solidão

Loredana e Lizeloth viviam juntas na velha casa onde tinham nascido e passado toda a sua vida, até então.

Solteiras, não tinham muitos amigos, faziam companhia uma à outra nos afazeres domésticos, nos passeios, nas viagens.

Pensavam que acabariam suas vidas assim, mas aconteceu o inesperado.

Lizeloth conheceu um novo colega de serviço, apaixonaram-se e em pouco tempo resolveram casar-se.

Loredana viu-se possuída de sentimentos contraditórios. Surpresa? Inveja? Mágoa? Medo?

Lizeloth mudou muito. Parecia uma adolescente no entusiasmo dos preparativos para o casório.

Fez questão de ter tudo o que tinha direito. Festa de noivado, chá de panela e finalmente a cerimônia com a igreja cheia de gente, festança até de madrugada, lua de mel numa estância da moda..

Loredana, com muito tato, tentou lembrar-lhe que era uma quarentona e ficaria ridícula numa exposição assim, mormente por ser o noivo quase dez anos mais novo.

Lizeloth não quis saber de nada. Estava se casando e tinha direito de exibir a sua felicidade, de usar o vestido de noiva e a grinalda de flores de laranjeira, pois não tinha ela permanecido virgem até então?

Loredana acabou se envolvendo também e ajudou a irmã em tudo que pode para que o seu grande dia fosse perfeito.

Vestida de noiva, caprichosamente penteada e maquiada, sorrindo, transbordando alegria, Lizeloth estava linda e nem parecia ter a idade que tinha.

Começava sua nova vida cheia de esperanças enquanto a irmã ficava só.

Ela e o noivo a convidaram para morar com eles, mas ela recusou.

Também não quis ficar na velha casa cheia de recordações.

Preferiu um apartamentozinho montado a capricho, tudo novo, onde começaria uma nova vida como a irmã, só que sozinha.

No dia mesmo do casamento, terminada a festa, dirigiu-se a sua nova morada.

Estava cansada, emocionada, sem saber muito bem analisar o que sentia.

O apartamento que montara com tanto capricho não parecia ser a sua casa, o seu lar, mas uma mera exposição de móveis e objetos de decoração.

Não conseguiu dormir. Sentia saudade da irmã que deixara há poucas horas. Como seria a sua noite? Seria tudo tão maravilhoso como ela esperava?

Pela manhã levantou-se e ficou por ali sem saber o que fazer, pouco a vontade com uma sensação estranha de estar fora de casa ansiosa para retornar.

As horas arrastavam-se lentamente e ela gostaria de apressá-las, não sabia bem por quê.

Que diferença fazia se era hoje ou amanhã se todos os seus dias seriam, agora, iguais, solitários e vazios?

A campainha tocou. Quem seria?

Elisabeth

Uma garotinha com uma caixa na mão fitou-a com dois maravilhosos olhos azuis e perguntou:

- Você sabe jogar Mico Preto?

- Não sei, mas vamos ler as instruções.

A menina acompanhou-a até a mesa da cozinha onde espalharam as cartas e começaram a jogar.

Loredana trouxe um batom e explicou que cada vez que uma delas acabasse o jogo com o mico na mão, a outra fazia uma marca no seu rosto com o batom.

- A menina disse que se chamava Elisabeth e riu quando Loredana lhe contou o seu nome

- Que nome esquisito! Parece o nome daquela coisa que tem na frente dos carros.

- Pára-lama! Qual a semelhança? Mas, tudo bem, você pode me chamar de Lô, Tia Lô, está bem?

O importante é que Loredana estava se divertindo com a garotinha e as horas passaram sem que ela percebesse.

De repente lembrou-se de perguntar:

- Sua mãe sabe que você veio aqui?

- Minha mãe está viajando.

- E quem está tomando conta de você?

- Meu pai

- E você pediu a ele para vir?

- Não. Ele está tomando banho.

Tranquilizou-se. Quando ele saísse do banho ia dar pela falta da menina e imaginaria logo que ela estava em algum apartamento vizinho.

Quando Loredana foi atender a porta de novo, outro par de olhos azuis a fitaram e logo em seguida, ouviu uma gargalhada e simultaneamente o grito da Elisabeth:

- Pai!

Ainda rindo ele perguntou:

- Mas o que é que vocês estão fazendo?

Só então Loredana lembrou-se que estava com a cara toda pintada, tal como a Elizabeth.

Instintivamente passou a mão borrando ainda mais.

- Desculpe, achei graça da cara de vocês duas

- Eu vou lavar o rosto, por favor, me espere um pouco...

- Não se preocupe. Vim só buscar a Beth, Desculpe a sua invasão. Ela não esta
acostumada a morar em apartamento. Pensa que o prédio todo é sua casa e que ela pode andar livremente pelos corredores e até entrar nas casas dos vizinhos.

- Pois aqui ela pode vir quando quiser, já somos grandes amigas, não é mesmo Elizabeth?

O rapaz despediu-se:

- Meu nome é Sérgio. Eu e a Liz moramos ali no 71..

Loredana ficou impressionada com o pai da Elizabeth. Que homem bonito! Que olhos! Que sorriso! Que leve perfume de banho tomado!

Policiou-se:

- Cuidado! Não vá se apaixonar depois de velha feito a Lizeloth1 Ainda mais que ele é casado....

Ficou meio intrigada. Segundo a menina, a mãe viajou e deixou-a com ele que parecia bem desligado, pois só deu pela falta da filha horas depois de ela ter saído de casa.

Não era de seu feitio meter-se na vida dos outros, mas estava irresistivelmente curiosa a respeito do charmoso visinho.

Depois disso, encontraram-se algumas vezes no elevador, Ele sempre sozinho ou com a Betinha e às vezes trocavam rápidas palavras depois do cumprimento.

- Quando é que você vai de novo jogar comigo?

Elisabeth olhou para o pai e foi ele quem respondeu:

- Ela está de castigo. Não pode sair de casa o resto da semana.

- De castigo? Que foi que você fez?

-Imagine que a encontrei escorregando no corrimão da escada no sétimo andar!

- Verdade? Você não pode fazer isso! Vá jogar mico preto comigo que é bem menos perigoso!

- Mas eu estou de castigo...

- Você está de castigo. Não pode sair de casa, mas se a Lô quiser ir jogar lá em casa será um prazer.

Loredana sentiu faltar o chão sob seus pés.

E agora? Como aceitar tão inesperado convite? No entanto, como podia recusar?

Saiu pela tangente:

- Estes dias estou muito ocupada, mas assim que tiver um tempinho eu vou, sim.

Ela sabia que a Elizaberh ia insistir no convite e já estava pensando em que desculpas poderia dar, pois, é claro que não podia meter-se na casa de um vizinho desse jeito.

E ele a perturbava cada vez mais.

Marta

Loredana abriu a porta e lá estava a Betinha de mãos dadas com uma mulher ainda jovem.

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