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Publicado: Quarta-feira, 6 de abril de 2005

Envelhecer e Morrer - o terrorismo interior de todos nós

Nessa última semana, dois tipos de questionamentos velados foram colocados à flor da pele : o envelhecimento e a morte. Envelhecer morrendo e morrer vivendo são paradoxos que atormentam nossa vida cotidiana. Assunto pautado em todas as cabeças, todas as aflições.

Nos sentimos profundamente mexidos com a eutanásia em Terry Schiavo, de forma cruel e consentida, aonde ao mesmo tempo se questiona que tipo de vida é essa, presa a um corpo inerte e quem de direito pode tirá-la? E também a agonia terminal do papa João Paulo II , humanizando a dor e o martírio como penitência escolhida.

Esses questionamentos divinos e interiores deviam fazer uma clara conexão terrena, nos fazendo olhar para o lado, para a assistência ao idoso e ao incapacitado invisível que povoa nosso pequeno mundinho.

Esse idoso representará 12 % da população do país em 2020 e estará num mundo aonde as políticas de saúde não se preparam para recebê-lo. Assim como não há preparo para os custos de uma doente terminal como Terry , que onera a saúde publica, que erroneamente encara que o doente mais caro é o idoso e não o terminal.

Estamos hoje em uma era de transição demográfica, aonde nascem menos crianças ( ter 2 filhos é apenas uma taxa de reposição e não de crescimento ) e a expectativa de vida aumenta, criando um problema a longo prazo de financiamento da qualidade de vida do idoso, pois haverá redução da mão de obra no mundo e aumento da população mais velha. O problema não será o envelhecimento e sim quem cuidará desses idosos.

Que esse tema sirva de reflexão aos indiferentes, pois comporá o nosso futuro imediato. Não há abordagem concreta das conseqüências do envelhecimento independente do estilo de vida.

A expectativa de vida aumenta sim, com a tecnologia e com o desenvolvimento, porém a qualidade de vida é conseqüência de uma vida inteira, muitas vezes marcada pela pobreza, trabalho físico, analfabetismo, desnutrição e saúde precária. Fazemos parte de uma fatia do mundo que envelheceu antes de resolver problemas sociais importantes, que poderiam evitar o excesso de dor, martírio e incapacidade.

Aliado ao paradigma social, a saúde publica ainda não adequou seu modelo para intervir e custear a saúde de quem vive mais. Terry Schiavo e Papa João Paulo II, no mundo real são estorvos de consciência nos problemas sem solução imediata e a longo prazo.No próximo domingo, no restaurante, olhem para o modelo de família que predomina: casal com 2 filhos e um idoso. Reflitam sobre a distância relativa entre a vida e a morte e sobre o infinito espaço que existe entre elas para que possamos exercer algum papel que mude essa realidade. Chorar as injustiças e perdas é muito pouco.

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