Publicado: Segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Era uma vez um palácio...
O fantástico Palácio da Pena está localizado na histórica vila de Sintra, e representa uma das melhores expressões do Romantismo arquitetônico do século XIX. Foi eleito como uma das Sete maravilhas de Portugal, sendo aliás, o primeiro palácio romântico da Europa.
No século XVI, D. Manuel I mandou construir o convento de madeira para a Ordem se São Jerônimo, substituindo-o mais tarde por um de cantaria para 18 monges. Entretanto no século XVIII, um raio destruiu parte da torre, capela e sacristia, e o terremoto de 1755 arruinou o convento.
As ruínas, no topo escarpado da serra de Sintra, encantaram o jovem príncipe D. Fernando, que em 1838 adquiriu o velho convento e áreas circundantes. O monumento atual foi mandado edificar por D. Fernando de Saxe Codeburg-Gota, casado com a Rainha Maria II. O futuro rei D. Fernando II, muito culto e de uma educação primorosa, depressa se apaixonou por Sintra, iniciando uma obra de consolidação do convento. Em 1840, D. Fernando ampliou o Convento de forma a construir um verdadeiro paço acastelado romântico, residência de verão da família real portuguesa.
Pensou, igualmente, em mandar plantar um magnífico parque, à inglesa, com as mais variadas, exóticas e ricas espécies arbóreas. Desta forma, Parque e Palácio da Pena constituem um todo magnífico. O Palácio, em si, é um edifício ecléctico onde a profusão de estilos e o movimento dos volumes são uma invulgar e excepcional lição de arquitectura. Quase todo o Palácio assenta em enormes rochedos, e a mistura de estilos que ostenta ( neo-gótico, neo-manuelino, neo-islâmico, neo-renascentista, com outras sugestões artísticas, como a indiana) é verdadeiramente intencional, na medida em que a mentalidade romântica do século XIX dedicava um fascínio invulgar ao exotismo.
Diz a Enciclopédia dos Lugares Mágicos de Portugal, volume 11, página 130: «O aparente ecletismo da arquitectura do palácio revela a intenção de fazer dele como que um catálogo das formas neomedievalizantes e exóticas disponíveis na altura. Do neogótico ao neomourisco, passando por sugestões indianas e pelo inevitável manuelino, tudo ali aparece, segundo um esquema de fascinante bricolage.»
O conjunto das diversas guaritas, o desnivelamento dos sucessivos terraços, o revestimento da parede com azulejos neo-hispano-árabes, oitocentistas, são elementos significativos. A adaptação da janela do Convento de Cristo, do lado do Pátio dos Arcos e a notável figura do Tritão, simbolizando, segundo alguns autores, a alegoria da Criação do Mundo, são pormenores fundamentais na interpretação deste Palácio.
A concepção dos interiores deste Palácio para adaptação à residência de verão da família real valorizou os excelentes trabalhos em estuque, pinturas murais em trompe-l'oeil e diversos revestimentos em azulejo do século XIX, integrando as inúmeras coleções reais em ambientes onde o gosto pelo colecionismo são bem evidentes.
Após a morte de D. Fernando, o palácio seria deixado para a sua mulher, o que gerou uma grande controvérsia pública, dado que se considerava já o histórico edifício como monumento. A viúva de D. Fernando procurou então chegar a um acordo com a o Rei e recebeu uma proposta de compra por parte de D. Luís, em 1889, em nome do Estado, que aceitou, reservando então para si apenas o Chalé da Condessa, onde continuou a residir.
O Palácio passou então para o património nacional, pertencendo ao património da Coroa. Durante o reinado de D. Carlos, a família real ocupou com frequência o palácio, tornando-se a residência predileta da Rainha D. Amélia, que se ocupou da decoração dos aposentos íntimos. A Família Real tinha o hábito de aqui passar os meses de verão. Quando arrebentou a revolta de 4 de Outubro, em 1910, D. Amélia aguardou na Pena o evoluir da situação, chegando com a sua comitiva a subir aos terraços para observar sinais dos combates em Lisboa. No dia seguinte, partiu ao encontro de D. Manuel, em Mafra, voltando na mesma tarde ao Palácio da Pena, onde passou essa noite de 4 para 5 de Outubro, a última que passou em Portugal antes da queda da Monarquia. No dia seguinte, conhecido o triunfo da República, partiu de novo para Mafra, ao encontro do filho e da sogra, de onde partiriam todos para o exílio. Com a implantação da República, foi transformado em museu, com a designação oficial de Palácio Nacional da Pena. Em 1945, a Rainha D. Amélia, de visita a Portugal, voltou ao Palácio da Pena, onde pediu para estar sozinha durante alguns minutos, era o seu palácio predileto.
É mais uma das visitas imperdíveis, pela cultura, pela história, sendo que ainda são preservados decorações com móveis da época.
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