Escrever ...
O espaço aqui é propositadamente limitado,quando não para que o leitor não se canse, porque hoje se trata de mera divagação.
Ao mesmo tempo em que as ideias pululam na mente, há o trabalho de coordenar tudo, sem permitir que venham muitas de uma vez, aos borbotões. Apenas que certos pensamentos cativam o interesse do autor e o estimulam, uns antes dos outros. Aí é diminuir a intensidade porque não há como aproveitar tudo. Não é mesmo encargo fácil.
Realmente, fazer escolha somente parcial, com abandono de partes também interessantes, quase que trunca o cerne do assunto. Resumir detalhes, que por serem detalhes já são pequenos, é quase extirpá-los. Com o sumiço deles, vai o leitor acabar prejudicado. E no mesmo fluxo com que desaparecem, nesse vazio outros chegam e mostram a cara. Conseguirá enfim o leitor compreender o tema proposto? Uma decisão difícil de ser tomada... Cortar, suprimir...
Pior, muito pior que, nem bem se decide por esta ou aquela supressão, como se disse ali atrás, surgem bolhas mil de pensamentos novos, qual leite que sobe ao ferver. Novos toques, itens interessantes. Ah. Uma nova lembrança. Ela teria entrado melhor ali atrás. E agora? Crueldade se não for aproveitada. Nossa! É sacudir a cabeça, como se com o meneio dela se aliviasse um pouco a avalanche que invade a imaginação.
Ah, sim, justamente. Falar dela, da imaginação. Esta, a inspiradora de tudo, é espalhafatosa e se avoluma ao de repente, sem aviso e enseja justamente esse atropelo que até agora se pretende explicar.
E tem outra. Conforme as circunstâncias, o escrever se faz de próprio punho ou digitado. Neste, o método permite certa rapidez na composição do texto. Mas, a mão, dedos espremidos sobre a caneta, por mais ágeis que sejam, não acompanham a velocidade da mente. Ainda não se terminou a frase, atrasada na escrita, outros dados vão despontando, quase a embaralhar tudo. Uma covardia. Acaba por se registrar somente algumas parcelas dos informes generosos que o cérebro proporciona ao homem.
Com o acréscimo, de lambuja a isso tudo, entra aí o humor de quem esteja a redigir. O estado de espírito. Faça-se antes um vigia severo de si próprio, para que o tempero dado ao texto, tanto não fique insosso como não salgue demais.
Justamente, quem lê o jornal ou a revista, não tem presente que o colunista, com a verve estimulada ou não naquela peça, no fundo é apenas gente, um ser comum. Seja-lhe, pois, concedido, por justiça, que tanto traga ele uma carga de sonhos às vezes ou de intenções, como que também, à falta delas, não satisfaça com seu trabalho. Ele, o cronista, faz de tudo. Secamente, nada produziria. Escrito sem brilho nenhum é como papel usado, sem préstimo final.
Outro pormenor de grande importância é a diversidade quase ao infinito das cabeças que o leem. Com o perigo de que enquanto uns sabem fazê-lo, outros não tem o senso da interpretação. Fica aí ao autor o crédito da coragem e do destemor. Está exposto totalmente ao crivo geral.
Sim. E hoje, diferentemente, por falta de espaço, não se conseguiu ir além do preâmbulo. Que pena. O assunto propriamente, o seu desenrolar, fica para a semana. O intuito fora o de comentar numa crônica o lixo político que grassa no país, periodicamente, em tempos de eleição. É de tal proporção essa poeira nojenta, de múltiplos aspectos, que o padrão da coluna extrapolou antes, insuficiente até para abrir sua abordagem.
De qualquer modo, o escrever é acima de tudo intuitivo.
E prazeroso.