Está Claro para Mim! - Uma Reflexão Sobre a Educação
Este texto foi apresentado no Congresso da Associação dos Professores de Inglês do Estado do Espírito Santo, como uma proposta para melhoria da Educação no Brasil, neste início de milênio. Estou reproduzindo aqui, para que possa passar a ser de domínio público e, quiçá, ser de alguma valia a todos que procuram melhorar a vida de nossas crianças e nossos jovens.
“Se nos fosse possível ter uma gravidez agradável, ter um nascimento feliz, crescer em um ambiente ideal, ter uma boa família, refeições, frutas, exercícios físicos, diversão, afeto, passeios, orações, aprendermos a relaxar, cultivarmos o hábito da leitura, trabalharmos nossas fantasias, termos orientação para lidar com nossos problemas, e assim por diante, nós poderíamos ser capazes de usar muito mais nosso cérebro e, então, o processo de aprendizagem poderia ser desenvolvido de uma maneira mais produtiva, com melhores resultados práticos.
Todos nós sabemos que não é assim, que isso não acontece dessa maneira.
Mas sabendo disso, todos nós, adultos, podemos promover uma mudança agora.
100%?
Não. Passo a passo.
Nós podemos ser felizes agora. Dirigirmos nossas vidas para a realidade e coisas boas. Existem muitas coisas que podem ser mudadas.
Pensemos em uma pessoa parada em casa, fazendo nada, tendo tempo para sofrer e perturbar os outros. Esta pessoa decide voltar aos estudos. Luta para ficar, para não desistir. Esta pessoa passa a conquistar alegrias, passa a ter um modo diferente de vida, para si e para os outros. Passa a fazer a diferença.
Pode voltar ao passado para consertar o que fez de errado?
Não! Mas pode mudar muitas coisas para o futuro. E isto é o que importa.
Entrar em contato com a realização / ação é entrar em contato com a realidade.
Quanto mais entramos em contato com a realidade, mais expandimos, de forma geométrica, o contato com as áreas de nosso cérebro e, claro, o contato com o nosso corpo, sensações, sentimentos, dificuldades.
De um modo prático, como é isso?
Em primeiro lugar, precisamos achar uma razão.
Para quê? Por quê?
Se gostamos de esportes, precisamos praticar e aprender o que pudermos sobre esportes. Como praticar esportes da melhor forma possível (comendo bem, descansando, etc.); se gostamos de cultura, precisamos nos envolver com tudo que se relacione a cultura; Se gostamos de idiomas, precisamos conhecer o máximo que pudermos sobre idiomas. Descobrir a melhor forma de desenvolver este nosso lado, lendo, ouvindo, falando, escrevendo, assistindo aulas, nos envolvendo.
Bem, e isto é para toda e qualquer área que nós pensarmos. Ao fazer isto, nós descobriremos que não somos tão bons quanto pensávamos. E então, se formos humildes o bastante, para reconhecer e para aceitar isso, nós procuraremos ajuda junto aos que sabem mais. Leremos, estudaremos, etc, etc. E cresceremos, cresceremos...
Minha própria razão para isso:
Se desejo um mundo melhor, tenho que ajudar a fazer este mundo melhor.
Claro que, se estamos no princípio da vida na Terra, e para mim está claro que estamos( começamos a ler e ter acesso a livros há pouco tempo! ), então temos muito a fazer. Muitas coisas precisam ser esclarecidas, descobertas, iluminadas. Não só as coisas ligadas à tecnologia, a assuntos materiais, mas, e muito mais importante, à Filosofia de vida que nos leva a essas coisas, e à nossa vida interior.
O que sei sobre minha vida interior? Quase nada.
Eu não sei lidar de forma correta com carinho, raiva, tristeza, preguiça, indiferença, inveja, ciúmes, arrogância, maldade. Mais ainda: EU NÃO SEI LIDAR COM MEUS MEDOS!
Eu nem mesmo aceito ter essas coisas em minha vida interior.
Iluminando isso, vendo bem isso, descubro todos os dias que sou envolvido por algo muito maior do que pensei em minha pobre miopia.
Desta forma, temos que explorar algumas dimensões de globalidade e temos que pensar em algumas perguntas com uma perspectiva global para qualquer tipo de Escola.
O texto a seguir foi adequado do Projeto de Treinamento Pedagógico, para Estudos Mundiais, na Universidade de York, entre 82 e 85, com o apoio da Comunidade Européia. Em resumo, as idéias principais em Educação Global são:
1) Consciência de Sistemas
Os estudantes devem adquirir habilidade para pensar de forma interativa, vendo as relações como teias em lugar da dualidade causa/efeito, problema/solução, razão/emoção, local/global.
Adquirir uma compreensão da natureza sistêmica do Mundo. Primeiramente, numa dimensão de espaço e, em segundo lugar, numa dimensão temporal, isto é, a natureza interagindo com o presente, o passado e o futuro.
2) Consciência de Perspectiva
Precisam reconhecer que têm uma visão de Mundo que não é compartilhada universalmente. Cada um tem sua própria perspectiva, que não é a mesma que a de outros povos, com culturas diferentes. Devem julgar padrões, estilos de vida, comportamentos e valores, considerando este aspecto.
3) Consciência da Saúde do Planeta
Devem adquirir consciência da condição global e das tendências globais, em termos de impacto ambiental, atividade humana, tensões internacionais, crescimento populacional, histórias de sucesso e insucesso na Proteção dos Direitos Humanos.
Desenvolver uma orientação futura na reflexão sobre a saúde do Planeta, percebendo que o que acontece hoje, trará conseqüências no futuro.
4) Consciência de Envolvimento e Preparação
Precisam estar orientados, no sentido de perceberem, no futuro, as conseqüências individuais e coletivas do presente global.
5) Processo Mental
Os estudantes devem aprender que o desenvolvimento pessoal é uma viagem contínua, sem destino fixo ou final.
“Eu tinha razão, parcialmente, antes. Agora eu tenho razão um pouco mais parcialmente.”
Decisões e julgamentos de agora são, por natureza, mutáveis.
Informações novas, perspectivas novas, paradigmas novos, nos ajudarão a ver as coisas de uma nova maneira.
Voltando à minha razão para ir em frente, sei que devo abrir um ponto de luz na escuridão, por mim e por todos aqueles que partilham comigo desta incrível aventura que é viver.
Todos podem – e devem – achar sua razão. Entretanto, sempre deve haver alguém, uma segunda pessoa, a ser beneficiada por isto, por esta razão.
À medida que vamos galgando a montanha, descobrimos que o que está à frente fica muito maior e que tudo que está ficando para trás, menor, bem menor.