Publicado: Sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Estradas e Retornos
É recente o meu gosto pela direção de automóveis. Na minha infância, mal tive convívio com carros. Meus pais nunca dirigiram e apenas alguns tios possuíam veículo próprio. Uma coisa é ter constantemente a presença de um carro na garagem da família, despertando curiosidade na mente infantil. Outra coisa é não ter essa presença, o que acaba não gerando o tal interesse.
Um dos maiores sonhos dos meus colegas, ainda adolescentes, era atingir idade para adquirir a carteira de habilitação. Alguns dirigiam escondidos dos pais, tirando o veículo sorrateiramente da casa quando estes se ausentavam para alguma viagem. Era como um brinquedo proibido e por isso mesmo muito emocionante.
Vi meus amigos vencerem o estressante caminho de aulas, provas e testes para poderem dirigir. Vi meus amigos comprando ou ganhando o primeiro automóvel. Foi uma conquista para a turma, que parou de voltar para casa a pé nas madrugadas de sábado. Pudemos conhecer outros locais fora da cidade, nos divertir pela região devido à facilidade do veículo disponível.
Nunca tive essa ânsia pela direção. Há poucos anos, sequer pensava em dirigir. Sem querer me comparar a ele, usava o exemplo do escritor José Saramago, que foi mecânico de automóveis sem saber dirigir. Eu simplesmente não gostava, não queria. Mas as coisas mudam e de repente ter um carro tornou-se finalmente necessário. Concordo que foi um crescimento, pois o veículo pode ser uma ótima ferramenta tanto para o trabalho quanto para o lazer.
Continuo não gostando de dirigir no perímetro urbano, principalmente no centro da cidade. A cada dia que passa, fica mais clara a realidade de pelo menos metade das cidades brasileiras: há veículos demais nas ruas, algo que a estrutura atual não suporta. Por isso aprendi a gostar mais de dirigir em estradas e rodovias, onde o tráfego flui melhor. Não há semáforos, cruzamentos, lombadas, pedestres, cães, gatos, bicicletas. É claro que temos exceções, principalmente nos feriados prolongados. Mas hoje em dia, quem deseja ir a algum lugar e não enfrentar congestionamentos, que fique em casa.
Certo dia resolvi passear de carro e peguei a estrada rumo a uma cidade da região, que eu ainda não conhecia. Sou um motorista que não tem pressa de chegar ao destino, ainda mais quando a viagem é de lazer. Vou ouvindo música, pensando na vida, curtindo a paisagem. Infelizmente, em caminhos que não conhecemos, é normal que a gente se perca...
E foi o que aconteceu comigo. Errei o caminho deixando de pegar a entrada certa. Dirigi mais alguns quilômetros e havia um retorno. Bem depressa, foi nele que entrei. Tudo resolvido: perdi um tempinho, mas retornei seguramente ao caminho original. Pude assim aproveitar o meu passeio e aprender mais uma lição, pois o tal caminho eu não erraria mais.
Na vida também pode ser assim. Estamos guiando na direção certa, na estrada que Deus nos indicou. De repente, as distrações do mundo nos fazem perder a concentração. Quando reparamos, já estamos muito distantes do caminho original. É bom saber que sempre temos um retorno nos esperando. Excetuando-se a morte, para tudo há solução.
Esses retornos foram colocados em nosso caminho por causa da misericórdia divina, que é infinita. Não importa quantas vezes erremos, sempre haverá um modo de voltar atrás. O perdão de Deus tudo apaga e concerta. O Pai nos conduz amorosamente de volta, a fim de que o seu plano para nós se cumpra inteiramente.
As estradas de Deus estão sempre em ótimas condições. Não há buracos ou ciladas pelo caminho. Seguindo seu plano original, não nos envolvemos em acidentes. E caso algo nos aconteça, podemos contar com seus anjos e a intercessão dos santos junto ao Cristo. Nessas rodovias divinas jamais estamos desamparados e portanto nunca há o que temer.
O bom é que, ao contrário de muitas rodovias brasileiras, as estradas de Deus não cobram pedágio e a passagem é sempre livre. Deus nos ama “sem parar”, sempre podemos ir rapidamente a sua direção se não nos afastarmos do caminho que ele nos traçou. Às vezes pegamos tantos caminhos errados, que um retorno parece impossível. Porém, basta a perseverança para permanecer no caminho de volta.
Talvez essas sejam comparações muito bobas. Mas como escrevi no início deste artigo, são idéias que me passam pela cabeça nos momentos em que a correria do cotidiano fica um pouco de lado. Se você está acostumado a dirigir estradas, quem sabe se lembre deste texto na hora de procurar um retorno na rodovia? E melhor ainda: quem sabe você decida pegar um retorno rumo ao caminho que Deus traçou para a sua vida?
Amém.
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