Eu sem ela
O nunca mais para sempre.
O vazio pleno de memórias.
O branco do papel sem palavras macias.
Eu sem ela após 18 anos. Como ficarei em breve? Seus latidos ainda ecoam um tempo feliz, com vozes e risos de criança. Meus filhos também cresceram. O tempo escorreu para todos. Pisquei e acordei em outra historia.
No ciclo que termina, o cheiro ocre se despede do aroma de jasmim. Morrer é preciso. E eu nem sei como sentir.
Olho seu olhar, hora acordado, hora vidrado. Nossos encontros mais raros, na distância do vento que leva. Tudo indo, sumindo, esvaindo... e eu nem sei como sentir.
A entrega me acalma. Aceito, confio, agradeço.
A espera sufoca. Pergunto, suspiro, peço.
Hora branco, hora preto. Sou cinza entre as cinzas de finitude. E eu nem sei como sentir.
Procuro me desnudar de qualquer saber para simplesmente viver. Um dia de cada vez. Acolher a dor, a pausa, a vida suspensa. Doar presença, tempo, atenção e amor. Encontrar algum tipo de sabedoria que me escapa. Eu nem sei como sentir.
Eu sem ela, mas tão com ela. Quando a ausência chegar de vez, tão em mim ela estará. Com tanta intensidade no cuidar, meus passos não me encontram mais. Onde eu estava antes? Como volto ao que não existe? Nem sei mais como sentir.
No compasso de espera, rezo.
Na saudade adiantada, choro.
Na vida que tenho, sigo.
E por tanto amor, agradeço!
Deborah Dubner pratica #umagradecimentopordia desde 2010 e procura sempre agradecer, mesmo nos momentos difíceis. Seu livro “ A Prática da Gratidão” foi lançado em 2018 e tem a vocação de espalhar sementes de gratidão por aí.