Explícito e implícito
A maioria vai pensar, acertadamente, que vamos escrever sobre sexo. Isso porque a palavra explícito que durante séculos – acredito -, se encontrava esquecida nos dicionários e vocabulários, de repente, lá pelos idos de1970, veio à tona para indicar filmes “cults” (de caráter erótico-pornográfico) e daí para a frente passou a ser usada com frequência por, roteiristas, articulistas, cronistas, escritores de todos os gêneros literários.
Vamos, então, começar por aí. O sexo implícito que representava um mistério, pois que ninguém se aventurava a discorrer abertamente sobre o mesmo, palpitava intensamente em todos os corações. Pois, sexo, referindo-se aos órgãos genitais, significa transmissão de vida e na sua profundidade, um ato de amor maravilhoso.
Naqueles velhos tempos, adultos falavam de sexo sigilosamente e, quando em pequenos grupos, não permitiam a aproximação das crianças e adolescentes. Tudo era muito circunspecto. Quando surgiam anedotas na conversa deles, os adolescentes ficavam encabulados com as risadas, mas dificilmente percebiam o assunto tratado.
Era o tempo em que as crianças apareciam no mundo trazidas na cestinha do pão pelo padeiro ou no bico de uma cegonha. Quando as mulheres ficavam grávidas, poucos percebiam, pois as vestes mais largas disfarçavam bem e quase não se conversava sobre o assunto. Filhos e filhas só nascidos em lar sacramentados pelo casamento.
Filhos de mães solteiras ou meretrizes constituíam uma lástima, rejeitados pelo grosso da sociedade, apodados com um palavrão até hoje em pleno uso. Aguardar o casamento oficial era imperativo para se pensar em vida sexual normal.
Por implícito, secreto, na sua imensa força propulsora, o sexo gerava fantasias heróicas, inspirava poetas, artistas da música, pintura, escultura e o que mais houvesse , sendo que obras geniais foram criadas, elevando espírito humano às alturas. Cataratas, águas represadas, turbinadas nas usinas energéticas dos terráqueos geravam amores sublimes, vidas nobilitantes, paz e harmonia social.
Mas, alguém e muitos outros espíritos rasteiros entenderam que o impulso sexual deveria ser aproveitado com mais frequência, usufruido ao máximo, liberado das suas amarras, para que homem e mulher não vivessem frustrados, mas satisfeitos, plenificados sexualmente em todas as fantasias. E então, o sexo de implícito passou a explícito.
Hoje é explicitude por todos os lados e em todos os sentidos. Não há necessidade de exemplificar. É só pegar os jornais, revistas, ligar o rádio ou a tevê e lá estão as chamadas eróticas, as fotografias, os anúncios, os “causos”, os crimes, as drogas, tudo bem explícitos. Acabou-se a repressão: o sexo não é mais vivência exclusiva dos casados, mas liberado indistintamente, o que é uma lástima.
Os próprios infantes que desejariam crescer em tudo, física, cultural, profissionalmente, antes de cuidar da vida sexual, são impelidos para a liberação precoce da libido! Atordoados com essa liberação, para os quais ainda não estão orgânica e devidamente preparados, os infelizes adolescentes se vêem jogados em um mundo perverso e no qual se integram de maneira inadequada, sem qualquer idealismo.
Daí são fortes candidatos ao uso de drogas, como escape a outras frustrações, pois sexo para eles se torna rotina. Vale a pena aceitar o sexo explícito? Distender os limites do pudor?
Conviver com a sensualidade exacerbada, motivadora do uso de drogas e promotora da violência incontrolável? Elogiar a retomada da nova campanha oficial, para o “sexo seguro” e “mais prazeroso” para todos, indistintamente, usarem a “camisinha”?