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Publicado: Sexta-feira, 19 de maio de 2006

Felicidade é coisa muito simples

Na semana que passou, o volume de trabalho acabou ficando um pouco acima do usual. E esse um pouco acima significa muito. Em condições normais, já quase me considero um workaholic. Enfim, por conta de algumas questões trabalhosas a serem resolvidas numa das escolas onde trabalho, e também devido a um relatório que precisava ser finalizado para ser enviado ao Ministério da Educação, acabei trabalhando bem mais do que deveria. Terminada a semana, no sábado, final da manhã, peguei minha filha menor, em Campinas, ela vindo de São Paulo, de carona com uma amiga da mãe. Depois disso, agora sem compromissos de trabalho, com ela fui almoçar e, logo mais, dirigi-me de volta para casa.
No final da tarde, início da noite, uma breve reunião ainda foi necessária, de forma que, no sábado mais à noite, não havia mais a menor reserva de energia para coisa nenhuma. Fazia um friozinho convidativo para ficar em casa, tomar um vinho e dormir debaixo de vários cobertores. Mas, como ainda era muito cedo para irmos para cama, antes disso pegamos dois cobertores e os levamos para a sala, onde ficamos assistindo TV. Eu sentado num sofá e minha filha deitada, cabeça encostada na minha perna, eu acariciando a cabecinha dela, passando a mão pelos longos cabelos. Ficamos ali assistindo a um filme politicamente correto, com tema apropriado para criança.
Dez e tanto, ela já dormia e eu também sentia o peso da atarefada semana. O jeito era rumar para a cama; nada mais a ser feito. E assim foi. Dormimos direto até as dez da manhã do dia seguinte, levantamos, fomos tomar café na padaria, depois voltamos e dei uma lida no jornal, enquanto minha filha ficou brincando no escritório. Logo mais, saímos para almoçar. À tarde, com aquela preguiça pós-refeição, fomos dar uma volta rápida por um dos shoppings. Depois disso, rumei logo a São Paulo, para levá-la de volta para casa, evitando o trânsito característico dos retornos de final de semana.
Uma vez na capital, acabei indo a um shopping novamente. A mãe não havia chegado. Parei no Eldorado, uma vez que ela também queria comprar um tênis novo. Acabei me entusiasmando, ficamos ali vendo uma coisa ou outra, um sorvete e depois um café, enquanto isso lavavam meu carro.
Passou o tempo rápido e, logo mais, nos encontramos com a mãe, ali mesmo. Fomos para um último café Em resposta à usual pergunta: "Como foram de final de semana?, respondi: "quase nada de importante, só canseira." Mas, para minha surpresa, logo de imediato fui interrompido. "Fizemos sim, mãe! Sabe o que nós fizemos ontem à noite? Pegamos um cobertor cada um e ficamos deitados no sofá, bem cobertos, assistindo a um filme, até dormirmos." A frase foi proferida com uma alegria que me deixou impressionado; me pareceu que tínhamos feito o maior programa de final de semana; um programão mesmo!. A alegria com a qual ela contou esse episódio simples acabou ficando gravada em minha mente. Na viagem de volta, fiquei com a imagem daquela alegria infantil indo e voltando.
Cinqüenta e dois anos, quase três! Tanto tempo para aprender uma coisa tão simples. Poderíamos ter feito muitas coisas naquele sábado à noite. Jamais imaginaria que algo tão simples pudesse ser fonte de tamanha felicidade.
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