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Publicado: Quarta-feira, 23 de junho de 2010

Festa de casamento

Era um velho sonho de Erotides fazer para a filha uma linda festa de casamento. Desde menina ela lia as notícias de grandes festas oferecidas por artistas, nobres, gente rica, enfim, e sonhava ter também, quando se casasse uma festa para ninguém botar defeito.

Não custava nada sonhar, mas ela era uma moça de condições modestas e casou-se com um rapaz que começava a vida com as naturais dificuldades financeiras. Todas suas economias foram gastas para dar a entrada no apartamento e nos móveis.

As famílias também não tinham muito dinheiro e todos concordaram que não valia a pena gastar muito para dar uma grande festa. Optaram por uma pequena recepção só para os amigos mais chegados.

Embora um tanto decepcionada Erotides concordou com tudo, pois estava apaixonada e queria mesmo era se casar de qualquer forma.

Erotides e Salvador foram felizes e conseguiram ao longo dos anos um pequeno patrimônio que ela estava disposta a gastar na festa de casamento da filha única e, logo que Kátia e Gustavo marcaram o casamento começou a planejar a cerimônia.

Gastaria tudo na festa. Casa a gente compra depois e pode-se viajar a qualquer tempo, mas a festa do casamento é inadiável, ou acontece no dia ou nunca mais.
Os meses que antecederam o casório foram de muito trabalho e muita preocupação para Erotides.

Contratou tudo o que de melhor havia na cidade, o melhor decorador, a melhor música, o melhor bufê, o melhor fotógrafo.

E o vestido da noiva? O traje dela e do marido?

Tudo tinha que ser perfeito. Nada podia falhar. E ela ficava a cada dia que passava mais nervosa, cansada e apreensiva.

Kátia e Gustavo, os noivos, não se preocupavam muito com a festa. Pensavam mais em montar a casa e muito mais em viver o seu sonho de amor.

Pouco antes do casamento, porém, tiveram um desentendimento.

Gustavo disse, fingindo indiferença:

-Sabe quem encontrei ontem?
- A rainha da Inglaterra?
- Quase acertou. A Margareth!

Margareth e Gustavo tinham sido namorados, Depois ela saiu da cidade e o namoro acabou em nada.

- Mas ela não tinha ido embora? Será que voltou?
- Não. Ela veio passar uns dias aqui, visitar uma amiga a Risoleta.
- E como é que você está sabendo disso? Será que teve um encontro com ela?
- Encontramos por acaso e só trocamos algumas palavras.

Kátia ficou furiosa:

- Eu não acredito que você ainda anda atrás dela.
- Eu não fui atrás dela. Nos encontramos e conversamos um pouco. Afinal não somos inimigos

O tom agora era de ironia:

- Muito amigos pra meu gosto.

Os dois acabaram brigando e ele foi embora meio amuado.

Alguns dias depois uma surpresa.Gustavo foi chamado para assumir um bom emprego para o qual tinha se candidatado.

Só que era em uma cidade distante e ele tinha que assumir imediatamente. Só poderia vir na véspera do casamento e teria apenas uma semana de lua de mel.
Erotides ficou desesperada. Muita coisa dependia do noivo estar por perto para os preparativos, os ensaios, etc., mas ele teve que ir.

Kátia também ficou aborrecida com a ausência dele, mas reconhecia que era para o bem deles e que tinha que agradecer a Deus por ele ter tido a sorte de conseguir o cargo.

Os dois mal se viram na véspera do casamento pois havia um milhão de coisas para fazer, Erotides estava parecendo uma pilha de nervos e contagiava a filha.

- Meu Deus! E se alguma coisa não sair a contento?

Finalmente, Kátia chega a Igreja acompanhada dos pais, bonita como nunca, no maravilhoso vestido de noiva cuidadosamente escolhido pela mãe.

Mas, alguém veio avisar que precisavam esperar um pouco, pois o noivo ainda não chegara.

Kátia irrita-se:

- Gustavo nunca chega no horário para nada. Mas atrasar para o próprio casamento é o cúmulo.

Embora irritada, também, Erotides procura acalmar a filha com medo que ela estrague a maquiagem ou amasse o buquê entre as mãos crispadas.

- Calma. Filha! Ele deve estar preso no trânsito.

Passam cinco minutos, dez, quinze...

O pai pede para alguém ir até o hotel onde ele se hospedara para saber o que aconteceu, mas no hotel só disseram que ele saiu com o carro de manhã, mas que não retirara as malas. Ninguém reparara muito nele.

Meia hora! Não restava dúvida que tinha acontecido alguma coisa e o melhor era voltar para casa.

Kátia entra correndo no seu quarto e sob os protestos da mãe arranca o vestido de noiva e atira-se na cama chorando, borrando a maquiagem e despenteando o cabelo.

- Ele fugiu com a Margareth!

O pai a recrimina:

- Não diga bobagem. Ele não faria isso.

A mãe não sabe o que fazer. E agora? A festa toda preparada... os convidados...que dizer a eles?

O pai irritado retruca:

- Os convidados já devem ter ido embora e quanto a festa, é claro que não haverá festa alguma. Eu vou a policia.
- A policia?
- Sim! Vocês não estão vendo que pode ter acontecido alguma coisa grave com ele?

Na delegacia disseram que só podiam começar buscas depois de vinte e quatro horas, mas que, no caso de algum acidente, certamente seriam notificados.

Salvador desespera-se:

- Vinte e quatro horas! Quanta coisa pode acontecer nesse tempo!

Também ele, apesar de muito preocupado não sabia o que fazer. Pensou em reunir alguns amigos... dar uma busca... mas, onde?

No dia seguinte uma pista:

Seu carro foi encontrado, tombado, junto a uma estrada próxima.

Não havia mais duvida. Ele fora assaltado. Mas onde estaria agora?

Por certo não se trataria de um seqüestro, pois ele não tinha parentes próximos, ninguém rico que pudesse pagar um resgate.

Kátia lembrou-se de que ele dissera que antes do casamento tinha que ir ao banco encerrar uma conta.

Não havia mais dúvida. Ele fora vítima de um desses assaltantes de porta de banco, mas onde estaria agora?

E a indagação cruel:

Estaria vivo?

Intensificadas as buscas, acabaram por encontrá-lo a beira de uma estrada, ferido e muito traumatizado.

Depois de passar uma noite em observação em um hospital, foi liberado e, apesar de tudo, quis que o casamento se realizasse imediatamente.

Erotides aflige-se:

- E agora? Temos que preparar tudo de novo!
- Nada disso, interrompe-a a filha, vamos casar simplesmente, só com as testemunhas e vamos começar a nossa vida em comum resolvendo juntos os primeiros problemas, os machucados do Gustavo, a falta do dinheiro, o conserto do carro, etc.

Um ano depois Erotides se encanta com a netinha que acaba de nascer:

- Que belezinha! Daqui a uns vinte anos...
- Nem me diga que você já está pensando na festa de casamento dela!
- E por que não?

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