Publicado: Segunda-feira, 25 de junho de 2007
Fidelidade e felicidade
Deus é fiel! Esta frase que aparece em ônibus, caminhões ou adesivos, espelha a nossa confiança em Deus, sempre fiel ao seu projeto, ao seu plano de amor. Apesar das nossas trapalhadas, Deus continua acreditando em nós. Essa fidelidade de Deus chama a nossa atenção e por vezes não conseguimos entender sua permanência, já que fazemos tudo para não merecê-la. Mas é exatamente aí que está o valor da fidelidade, incondicional e desinteressada.
Podemos perguntar: o que tem a ver a felicidade com a fidelidade? A resposta é que há muito mais do que podemos imaginar.
Basta que entendamos o verdadeiro sentido, a verdadeira amplitude do termo fidelidade. Estamos acostumados com seu uso ligado ao aspecto amoroso e sexual, mas é muito mais que isso. Fidelidade aos nossos compromissos assumidos, às obrigações, ao trabalho e à profissão, fidelidade ao nosso Batismo, à palavra de Deus, a Cristo e ao Evangelho, fidelidade à Verdade, aos amigos, à família.
A felicidade depende de uma série de fatores, de condutas e comportamentos; a fidelidade é apenas um desses, mas de grande significado. É muito difícil conviver com a infidelidade, não importa em que grau ou em que aspecto. A felicidade, principalmente dentro dos nossos relacionamentos, está muito condicionada à confiança e esta fica abalada diante de uma infidelidade, de uma traição. Instaura-se imediatamente a desconfiança, desestabilizando o relacionamento e a convivência: será só isso?, o que mais eu não sei?, o que será depois?
Além disso, a infidelidade é desrespeito, falta de consideração e covardia; faz-se a outra pessoa de boba esperando-se dela paciência, tolerância, compreensão.
À medida que as relações se estreitam (amigos, namorados, noivos, marido e mulher, pai e filho, patrão e empregado) mais e mais se torna necessária e vital a fidelidade; quanto mais confiamos em alguém, quanto mais alguém deposita sua confiança em nós, mais imprescindível ela se torna. A fidelidade é sempre esperada, por mais que a nossa sociedade queira desvalorizá-la.
Os casados devem ser os primeiros a testemunhar a grandeza da vida conjugal e familiar, fundada na fidelidade ao compromisso assumido diante de Deus.
Diz D. Alvaro del Portillo: “Quando desaparecem o amor, a fidelidade ou a generosidade perante os filhos, a família se desfigura e as conseqüências não se fazem esperar: para os adultos, solidão; para os filhos, desamparo; para todos, a vida se torna um território inóspito.”
Fidelidade e felicidade têm em comum muito mais que a simples rima. Neste nosso tempo em que se propaga e se adota o temporário, o descartável, onde parece que nada mas resiste aos tempos como outrora, surge uma questão séria: são as “coisas” que não duram ou nós não as deixamos durar? Fidelidade tem a ver com durabilidade, muito mais que a durabilidade dos bens materiais, a durabilidade dos bens espirituais e sentimentais. Tem a ver com o nosso comportamento, com nossas atitudes e decisões.
Felicidade é algo que se constrói, mas como vamos construir algo duradouro sobre estruturas voláteis, provisórias, descartáveis? Não é possível imaginarmos que algo tão importante e tão complexo como a felicidade possa resistir a uma cultura onde se troca “tudo” com a maior facilidade; não se investe na durabilidade porque esta “custa mais caro”, dá mais trabalho e, embora a compensação venha, quase sempre demora. Temos pressa, queremos a felicidade fácil e já; é claro, não se consegue e acabamos frustrados e infelizes.
Ou fundamentamos nossa vida, em especial nossos relacionamentos, em elementos sólidos, estáveis e duradouros para podermos conseguir a real felicidade ou teremos que nos contentar, quando muito, com poucos momentos felizes...
Lembramos aqui a historinha cantada na música “João de Barro”: querendo ser “feliz” ele resolveu arrumar uma companheira. Empolgado, envolveu-se incansavelmente na tarefa de construir seu ninho, seu “lar”. Infelizmente sua companheira não o levou a sério e o traiu...
Deparamos aqui com um projeto de felicidade semelhante a tantas situações humanas, e que termina em desilusão, desencanto, dor e sofrimento...
Sem dúvida, a fidelidade adquire sua relevância máxima no casamento, onde o relacionamento conjugal e a comunhão de vidas exigem uma fidelidade total e incondicional, sob pena de fracasso, ficando a felicidade do casal apenas no sonho.
Entretanto, o homem e a mulher são cada dia mais tentados a serem infiéis. A infidelidade no matrimônio é um mal que cresce sempre mais.
O fascínio das novelas e as fantasias das produções cinematográficas insistem na infidelidade. Pretendem dizer que não é possível alguém permanecer fiel.
Na vida conjugal, é natural que as pessoas tenham pontos de vista diferentes; como bem escreve Dom Rafael Cifuentes, saber resolver essas diferenças, com simplicidade, faz parte da dinâmica vital e do processo de amadurecimento da pessoa. Divorciar-se significa romper esse processo de crescimento, arrancar pela raiz a planta viva e lançá-la, sem necessidade, ao fogo.
Segundo o sacerdote Javier Abad Gómez, o ser humano só se distinguirá do animal se for capaz de superar o interesse do momento, ditado pelo egoísmo, pela emoção ou pelos estímulos sensitivos, para construir a vida em torno de princípios e de uma rede de vínculos que permaneçam através do tempo, aconteça o que acontecer.
Lembra ainda que a fidelidade à verdade conhecida, o respeito à palavra empenhada, a mútua doação para sempre dos esposos são compromissos que, quando firmemente sustentados, elevam o homem à sua plena dignidade de filho de Deus e tornam sinônimos absolutos fidelidade e felicidade.
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