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Publicado: Segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Fraco não ganha de forte

Pai, mãe e filho; este, garotinho de não mais que dois anos. Mal trajados. O menino postado na calçada por sobre um jornal dobrado, cuja umidade denotava que noutra circunstância dele já se teria trocado as fraldas. Se as tivesse, claro. A mãe, com um braço, segurava o pequerrucho e com o outro balançava um prato de lata para provocar barulho, com as poucas moedas nele depositadas.
 
Nessa cena, por demais encontradiça em cidades médias e grandes, aliada ao estado de subvida da periferia, tem-se o componente eficaz e fatal do Brasil de hoje e de amanhã. Sem perspectivas. Exatamente a miséria que gera a violência.
 
Os bem-postos na vida, com o dinheiro, fecham-se em si próprios, cada vez mais. Políticos? Ah, sim, vão bem, obrigado. Locupletam-se.
 
Este enfoque vem a propósito da inserção, no Guia 4Rodas 2007, dê uma destacada advertência aos turistas, no cuidado com os assaltos. Quer dizer, ao lado da mostra dos encantos naturais de um Brasil privilegiado, se diz: Se puder, divirta-se.
 
Numa inserção recente ao Nordeste, nos seus pontos mais chamativos, viu-se o quanto piorou e a que detalhes de ousadia a violência chegou. Não que outras capitais pousem de modelo. Não. É que outrora as daquela região não tinham o mesmo peso amedrontador de uma São Paulo ou Rio de Janeiro.
 
Salvador, Recife e Fortaleza, na linha de frente da festa da violência. Assaltantes sem pejo nem medo, deram agora de submeter mulheres ao vexatório acinte de lhes suprimir dinheiro ou jóias tomados à força, por mais escondidos que estejam.
 
Em Fortaleza, pizzas só são entregues bem longe de áreas periféricas. Mesmo caminhões de entrega de mercadorias negam-se de adentrar alguns cantos em que os saques são comuns. Motociclistas e vendedores autônomos não se atrevem mais entrar na periferia, pois serão molestados, com risco de vida. Esse quadro tenebroso da bela capital do Ceará foi apresentado na televisão local, numa extensa e triste reportagem. Com o intuito claro de advertência ao povo.
 
No último dia dessa breve estada ali, ao tomar-se dos jornais de Fortaleza, se noticiava que chegavam as cem primeiras viaturas de um lote de duzentas, destinadas ao patrulhamento urbano, num programa de vasculhar quarteirões, um a um. Varredura autêntica. Quer dizer: uma vez mais se ataca a conseqüência e não se cuida da causa. Ação à inversa. E haja dinheiro! Duzentas viaturas e mais o contingente imenso, certamente novo, para tocar essas ações.
 
Prognosticou, certa feita, um saudoso prelado, de que, a não se por cobro à miséria, um dia a favela invade a cidade e os muros dos condomínios serão escalados. Em parte, isso já acontece.
 
Tem-se, enfim, salvo engano (assim fosse!!!), que a violência é hoje um gigante e a segurança no geral um interminável consumo de dinheiro público (nosso!!!), ineficiente e mais fraco.
 
E fraco não ganha de forte.
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