Publicado: Segunda-feira, 28 de abril de 2008
Freud, Sócrates & Isabella
Confesso um fascínio pelo inconsciente coletivo, mas às vezes me surpreendo com a onda de loucura coletiva que toma conta das pessoas. É uma séria doença social.
Movidos por compaixão, repulsa, indignação, cólera ou qualquer outro sentimento que nos tire da zona de conforto, nos colocamos frente a uma reação em massa perigosa, especulativa, punitiva.
Os outros sim, nós NUNCA! E aí Freud se encontrou com Isabella.
A morte desta garota é mesmo um horror-show, mas a reação das pessoas é Freudiana, típica das maiores rupturas da segurança familiar, do inquestionável.
Ao andarmos pelo caminho das pedras (leia-se: a vida) sabemos que as palavras da alma de Freud nos acompanham, imutáveis por décadas e gerações.
É na família que buscamos conforto, segurança e uma dose de indiferença aos percalços da vida. Estamos sim, diante de uma quebra especulativa e pública desse contrato entre parentes, questionando a violação alheia como se não enxergássemos a violação cotidiana desse acordo emocional, que deveria ser protetor.
As violências contra crianças têm seu núcleo na família, aonde ocorrem quase que a totalidade dos casos. Temos crianças marcadas, estupradas, emocionalmente abusadas, psicologicamente irreversíveis ao nosso lado, não precisamos de mídia e sensacionalismo para reconhecimento fugaz da realidade que nos rodeia.
Presenciei em vizinhos, amigos (?) e pacientes muitos fatos semelhantes à estória da Isabella, antes do trágico fim. Quando o assunto sair da mídia, voltamos para a indiferença? Quando a violência extrapola o explicável, enlouquecemos junto?
Aí, entra Sócrates para segurar a mão de Isabella. Sócrates, o filósofo chato que respondia uma pergunta com outra pergunta, se agrega a este questionamento sem fim. Quem fez? Porque fez? Como fez? Pra que fez? É loucura? Maldade? Pai mata filha? Etc, etc, etc...
Não temos respostas, só mais perguntas, e talvez, não tenhamos respostas jamais!
Apenas fica registrado que o interesse mórbido das pessoas pela estória alheia está apenas nos aliviando da indiferença por outras estórias as quais optamos por fechar os olhos.
Nunca interviu ao ver uma criança desconhecida apanhar? Nunca enlouqueceu com choros de crianças malcriadas no vizinho? Admita, essa não é uma estória desconhecida.
É uma estória de violência, mas com precedentes. E temperada com a mesma indignação que antecederá a indiferença após esse período de evidencia da mídia
E o depois?
As crianças de hoje estão aí, na sua sala, vendo os noticiários e se sentindo desprotegidas e em estado de dúvida. Não se esqueçam que até um mau exemplo é um bom exemplo e forma opiniões. Pergunte ao seu filho sobre Isabella, você se surpreenderá com os medos instalados instantaneamente sobre tudo o que você construiu até hoje com amor e carinho.
Acha que seu papel é assistir noticiários, julgar e condenar? Não! Faça algo pelo futuro, interfira sim na realidade e não nas rodas de fofoca, porque senão, o fim será o mesmo: pateticamente esperaremos outra manchete de jornal para nos sentarmos, de novo com Freud e Sócrates.
Comentários