Publicado: Sábado, 5 de maio de 2007
Gostar do Papa?
Já ouvi as mais diversas opiniões sobre Bento XVI. As mais comuns dividem-se entre os que gostaram e os que não gostaram de sua eleição para a função de Sumo Pontífice. Nem mesmo dois anos depois da morte de seu antecessor, com tantas palavras já ditas e publicadas, com algumas viagens já feitas e atitudes tomadas, o atual Papa consegue ser unanimidade entre seu próprio povo. De fato, quando foi escolhido pelos Cardeais para o cargo, uma das certezas é que não seria fácil viver à sombra de Karol Wojtyla, o inesquecível João Paulo II.
Muitos não contavam é que o até então Cardeal Joseph Ratzinger não se abalaria por causa disso. Homem de confiança de João Paulo II, há anos partilhava com ele os principais assuntos inerentes à Igreja Católica. Viver à sua sombra seria mais uma graça, como o foram os anos em que pode auxiliar o Papa polonês no Vaticano. Nos discursos que faz, nos escritos que divulga, Bento XVI faz questão de enfatizar sua unidade de pensamento com Karol Wojtyla, a admiração por seu legado e exemplo de santidade.
Os que gostaram da eleição do Cardeal Ratzinger viram como ponto positivo o fato de ser um grande intelectual e estudioso das questões de fé. Além disso, estava mais que habituado com a rotina do Vaticano e praticamente ciente de todas as grandes questões que desafiam a Igreja na atualidade. Sua idade e condição de saúde preocupava. João Paulo II fora eleito com menos de 60 anos, Bento XVI assumiu a Cátedra de Pedro beirando os 80 anos. Qual seria o tamanho de seu pontificado?
Os que não gostaram da eleição do Cardeal Ratzinger apelaram logo de início, alegando a falta de carisma em relação a seu antecessor. Trata-se de argumento injusto. Com João Paulo II não dá para competir nesse quesito. Wojtyla teve um pontificado de 27 anos, o terceiro maior de toda a história bimilenar da Igreja.
Tinha carisma para dar e vender, em parte por seu jeito pessoal de ser e também por estar atento aos simbolismos aprendidos nos anos em que fez teatro amador. Sabia usar os meios de comunicação para divulgar suas frases sempre sábias e cheias de verdade, bem como solidificar na mídia a sua imagem.
Os que não gostaram da eleição do Cardeal Ratzinger também acharam ruim o fato de ser alemão, como se isso fosse um defeito. Tentou-se criar alguma polêmica envolvendo a infância do Santo Padre com o período do nazismo de Hitler, mas foi em vão. O assunto acabou esquecido. Também tentaram macular a imagem de Bento XVI distorcendo suas declarações e fazendo críticas injustas. As falsas polêmicas morreram por si mesmas e o Santo Padre está aí, a toda. Ou melhor: está aqui e entre nós brasileiros.
Acredito que a questão não deve ficar dividida entre os que “gostam” e os que “não gostam” de Bento XVI. Como fiéis católicos, devemos aceitar aquilo o que Deus, através da história humana, determina para a condução de sua Igreja aqui na terra. Se coube ao Senhor escolher o Cardeal Ratzinger para suceder o Cardeal Wojtyla, quem somos nós para questionar os desígnios divinos? Bento XVI deve ser acolhido, amado e respeitado, por tudo o que é e pelo que representa para toda a Igreja Católica no mundo.
Mudando ou não a opinião de uns e outros, a visita de Bento XVI vai entrar para a história do Brasil e do mundo. Entre outras coisas, será ele a presidir a canonização de Frei Galvão, o primeiro santo genuinamente brasileiro, nascido em Guaratinguetá (SP). Só esse acontecimento já basta para marcar historicamente a passagem do Papa por nosso país, sem contar o fato de o Santo Padre também presidir a abertura da 5a Conferência Geral do Episcopado Latino Americano e Caribenho, realizado em Aparecida. Trata-se de um acontecimento importante não apenas para a atuação da Igreja nas Américas, mas em todo o mundo. É significativo o fato de sua abertura acontecer no dia 13 de maio, dedicado a Nossa Senhora de Fátima, em pleno domingo comemorativo ao Dia das Mães. É de grande simbolismo os trabalhos serem realizados na Basílica de Aparecida, o maior Santuário mariano de todo o mundo.
Ainda é incerto o tamanho da repercussão que a visita do Papa vai causar entre os brasileiros e os destinos da Igreja Católica após a 5a Conferência do CELAM. Mas a certeza que já podemos ter é que esse momento ficará por vários anos na memória dos brasileiros, principalmente na dos católicos que, como parte do grande rebanho de Cristo, se alegram por ver de perto o seu Pastor.
Amém.
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