Grito de Alerta! - Posse na ACADIL
Dediquei esta fala, parte da Saudação ao Patrono da cadeira 20, Poeta Luiz da Silveira Moraes, da ACADIL, por ocasião da minha posse naquela Academia de Letras, no último dia 17 de maio, como forma singela de agradecimento ao seu legado, ao seu exemplo vivo de humanidade.
Senhoras e senhores,
Não direi que não estou à altura, ou não mereço este título de acadêmico da ACADIL. Não compete a mim o julgamento de meu trabalho ou minha conduta.
Porém não vejo este título, ou qualquer outro título, ou qualquer outro cargo, como algo que me coloque em posição superior aos meus semelhantes, ou em posição de destaque.
Muito pelo contrário, qualquer título, ou função pública ou privada, nos mostra, tão somente nos mostra, a responsabilidade que temos para com nosso próximo, por termos sido aquinhoados com diferentes dons, por atuarmos em diferentes áreas do conhecimento.
E é sobre esta responsabilidade que quero lhes falar.
O Brasil e o mundo vivem um momento ímpar, e perigoso, muito perigoso, da história da humanidade.
O princípio da autoridade democrática se esvai e valores como dignidade, trabalho, honra, estudo, disciplina, respeito ao semelhante, ao bem público, à propriedade material e intelectual, respeito à criança e ao jovem, direito de ir e vir, gratidão (ah! A gratidão), valores perseguidos e abraçados pelo Luiz, por toda uma vida, foram substituídos pelos valores materiais.
Simples assim!
Os interesses menores, que nos voltaram para nossos próprios umbigos, nos tornaram céticos, como diz o Chaplin em seu discurso.
Vou além, nos tornaram amargos!
Lendo os escritos do Luiz, e refletindo sobre isso, a resposta a que chego é que, devido a tanta propaganda, nas mais diferentes esquinas da vida, passamos a valorizar a casca, não o interior; passamos a nos deter no contentor, não no conteúdo; passamos a comprar pacotes, não presentes; passamos a dar valor às grandes festas, não às singelas reuniões de amigos; passamos a levar para casa o discurso, não o foco da questão; passamos a comprar o livro pela capa, não pelo escritor ou pelo que escreve; passamos, enfim, a ficar no supérfluo, não nos aprofundando na alma da pessoa que nos fala.
Se a foto sair bem no Facebook, tá de bom tamanho...No “face” estão as perguntas e as respostas...
Perdidos nesse emaranhado de ilusões que construímos para nós mesmos, passamos a ver valor nas pessoas “saradas”, homens e mulheres; a ver como companheiro ou companheira ideal, a pessoa que se enquadre no “padrão” que nos foi vendido durante toda uma vida.
Usamos de todas as artimanhas, malhação, emagrecimento, operações das mais diversas, tingimentos e fingimentos, mas não saímos do quadrado!
Assim, “nos enquadramos” em uma Sociedade que se esqueceu como Humana, que se esqueceu como reflexo de um ser maior, bondoso, incrivelmente gentil, incrivelmente amoroso, eterno em sua sabedoria.
O que era para ser complemento passou a ser o principal, e o principal ficou esquecido em um canto de armário, cheio de poeira e teias de aranha, pedindo, clamando, por limpeza e arrumação, voltando, assim, as coisas aos devidos lugares.
- Não sou contra as coisas que nos dão mais conforto, proporcionam momentos diferentes, renovam a alma para a semana, não sou contra a evolução que conquistamos a tão duras penas.
Discordo, e com um bom discordar, veementemente, do valor que se deu ao complemento.
Vivo também a boa vida, sonho também o bom sonho, amo também o bom amar, danço também a boa dança, mas tudo a seu tempo.
Uma vida segura é construída de realidade, de leitura séria, de estudo, de trabalho, de “jogo duro”, de responsabilidade, de honra, de gratidão, não de fantasia!
Para que possamos ter o complemento, precisamos construir o principal.
Perdidos em nós mesmos esquecemos nossas origens, esquecemos que fomos feitos com o que há de melhor no Universo – Espírito, Filosofia, Sentimento e Matéria, um apoiando ao outro na medida certa, e no momento certo.
Esquecemo-nos de que o amor sublime deve ser o condutor de nossas ações, deve ser o condutor da forma como educamos nossos filhos, e do exemplo que damos a eles.
Esquecemo-nos que Educação não é a imposição de nossos conceitos, não raramente ultrapassados, mas sim, a arte de se colocar no lugar do outro, de caminhar ao lado, para compreender a fala e as necessidades do educando.
Não estamos mais acostumados à bondade, à gentileza, e deveríamos;
Não estamos mais acostumados ao “deixa prá lá”, ao perdão, que nos redime e eleva. Isso é fundamental!
E não estamos mais acostumados à felicidade que, quando alcançada, nos mostra o que é a vida, de fato, nos mostra o que é SER HUMANO.
Esquecemo-nos do que é ser amigo, mas amigo de fato!
E, infelizmente, nos esquecemos dos verdadeiros amigos, nos esquivamos do afeto, nos esquivamos da alegria de uma conversa interminável, de um afago, de um sorriso, de uma dança com a pessoa querida, de uma visita, um almoço com os “velhos”, um convite para um passeio...
“Que correria!”, “Precisamos ver”, “A gente se vê por aí”, “Nos falamos pelo face”, “Não tenho tempo!”, são as frases mais pronunciadas.
Distraídos, preocupados com o pacote, esquecemos o interior e o que há de melhor no ser humano.
E o ser humano pode ser incrível, se prestarmos a devida atenção, pode proporcionar infinitas alegrias, se nos deixarmos levar pela infinita alegria.
Se formos além do supérfluo encontraremos nosso tão desejado oásis, no meio deste deserto construído à nossa volta.
Depende de nós seguir, ou não, a estrela que nos levará a este oásis do qual vos falo.
A vida, afinal, é feita de escolhas, e podemos escolher a felicidade, podemos tentar enxergar além desta névoa que nos tem impedido de ver a luz de um novo dia, nos mantendo sempre no ontem...
Escrevi, já há alguns anos, que “a razão da existência humana é amar”. Continuo acreditando nisso!
Nascemos para o amor, para a felicidade que nos proporciona este amor, manifestado em suas mais diferentes formas, vertendo o divino para o humano.
Meus filhos, minhas noras, minhas netas e meus amigos aqui presentes, a vida é muito curta, muito mesmo. O que não vivermos hoje, o que não amarmos hoje, o que não entregarmos de corpo e alma hoje, não nos será possível repor amanhã.
O amanhã guar