Hipóteses & conclusões
Os dois se conheciam desde meninos, quando então moravam na mesma rua e cursavam a mesma escola. Naquele período, eles viajavam juntos nas férias escolares, freqüentavam o mesmo clube, jogavam no time da cidade e também construíram uma sólida amizade ao longo da infância e na adolescência. Existiam algumas diferenças nas personalidades; Marcio era sempre muito sério e Ricardo um grande gozador. Na época da universidade, seguiram caminhos diferentes: Ricardo se formou engenheiro e Marcio escolheu a biologia, especializando-se em cultura de cogumelos.
Depois de muitos anos, eles se encontraram novamente, agora num grande centro, um como diretor de uma empresa de montagens industriais e o outro como professor de escola secundária. Começaram a sair juntos logo após o trabalho diário, pelo menos uma vez na semana, para tomarem algumas cervejas e também colocarem em dia a conversa. O biólogo rapidamente percebeu que o amigo era chegado numa bebida: cerveja, vinho, rum, gim, uísque, tequila, vodca e pinga eram, para o engenheiro, como água para matar a sede. Na volta, ao término da noitada, invariavelmente ele tinha que ser carregado.
O biólogo, sempre que encontrava o companheiro, costumava dizer: - Ricardo, é preciso maneirar na bebida; isso está acabando com você!
O amigo não lhe dava ouvidos ou, então, simplesmente respondia: - Que nada, álcool é bom pra saúde.
Naquela quinta-feira, encontraram-se no bar de costume. Notando que o parceiro já tinha tomado alguns tragos, Márcio logo começou a falar: - Ricardo, assim não é possível! Você está exagerando!
Tentando convencer o colega a reduzir a quantidade de álcool, o biólogo chamou o garçom, pediu-lhe dois copos - um com água e outro com aguardente - uma faca e também uma goiaba. Cortou a fruta e procurou, numa das metades, um daqueles bichinhos característicos. Assim que o encontrou, disse ao amigo: - Como você é inteligente e cursou a universidade por cinco anos, vou lhe mostrar uma coisa da qual você tirará suas próprias conclusões.
Pegou a larva e colocou-a no copo com água; o pequeno ser movimentou-se como se estivesse bastante familiarizado com o mundo aquático. Quando o biólogo retirou-o do primeiro líquido e, em seguida, introduziu-o no álcool, o bicho-de-goiaba logo estancou imóvel e sem vida, após alguns espasmos.
Márcio perguntou ao engenheiro: - Bem, o que se conclui disto?
Ricardo, tendo observado atentamente o acontecido, rapidamente respondeu: - Quem bebe está livre de vermes, ora!