Homem que é homem, não chora
Por mais uma de tantas tradições perversas, costuma-se impingir ao sexo masculino a dureza na expressão de seus sentimentos, a ponto de que lhe seja proibido chorar.
Nada mais insensato.
Assuma o homem na plenitude suas condições de mando no lar, nunca no sentido de poderio e machismo tolo, mas apenas no de orientação, amor e segurança, a esposa sempre ao lado em todos os momentos. Este o seu dever precípuo.
Para a mulher, até pela sua natureza de ser delicado e frágil, nunca fraca porém, e da docilidade que lhe é inata, não contudo como submissa, reservam-se-lhe aqueles cuidados de um tino natural condizente com sua maior qualidade, a de saber ser essencialmente feminina.
Vem aí o dia 8 de março, em que, mesmo por recair numa terça feira de carnaval, o Dia Internacional da Mulher, deixará de ser lembrado.
As datas marcadas e celebradas, são imprescindíveis, sejam elas de qualquer ordem e significado, para que nunca nomes ou feitos caiam no esquecimento. Há de se lhe prestar, pois, à mulher como tal, as merecidas homenagens. Algumas, por sinal, neste Itu, conquanto transferidas para poucos dias mais tarde, estão sendo devidamente programadas. Seu enunciado brevemente virá à tona e que todos participem.
O foco da matéria vai em busca hoje de afirmar o quanto a masculinidade pode se expressar de muitas formas, aparentemente impróprias, mas no fundo muito naturais e consequentes. Um belo e comovente exemplo se vai dar logo abaixo. Momento inesquecível.
A ternura em si – que nem é presa das mulheres nem desqualifica o homem – ela, pelo equilíbrio de sua manifestação, perdura e deveria perdurar em todas as situações imagináveis. A calma, o enlevo, a atenção, os índices mínimos de uma educação esmerada, o respeito ao semelhante e a si, são virtudes a compor no ser humano, de ambos os sexos, uma postura ideal e qualificada.
Nesta semana, na transposição do domingo para a segunda feira, 7, mais uma vez a comoção da nota de falecimento de uma pessoa querida logo se espalhou. Conquanto enfermo de algum tempo e de idade avançada, foi muito sentido o passamento do senhor Placídio Salvador.
Ao lado da dor profunda dessas horas, perpassou óbvia e clara, confirmada enfim, a comprovação da existência de uma família tradicional e séria, exemplo necessário aos tempos de agora, de tanto descaminho. Compungidos, mais irmanados do que nunca, os seus filhos velaram o corpo inerte do pai com a máxima unção. Ao choro convulsivo das filhas se entremeava também o dos filhos, sem pejo algum.
Eram catorze horas, quando o cortejo se locomoveu a caminho da necrópole municipal para o sepultamento. Indiferente a uma canícula feroz, praticamente de sol a pino, lá o féretro se quedou, bem defronte da Capela, urna reaberta para as despedidas derradeiras.
Eis que, aos acordes de violões afinados, os seus filhos iniciam o cântico obra prima do renomado autor sacro, Padre Zezinho, denominado Utopia. Aos poucos, as pessoas presentes se incorporaram a cantar e instaurou-se assim uma aura de irreprimível emoção e comoção.
Colha-se deste acontecimento, ainda, a exemplaríssima demonstração de fé cristã adulta e consciente que a família, em uníssono, deixou evidente num momento especial desses.
Uns e outros, homens e mulheres, muitos deles sim, ali, na hora, nem conseguiram disfarçar ou conter as lágrimas. Dos homens, e aqui se consagra a mensagem desta crônica que não poderia de modo algum deixar de ser escrita, também da parte de muitos deles foi permitido chorar.
Como resistir à melodia dolente e às palavras inspiradas da canção que se espalhava pelos ares do campo santo:
“ ... faltava tudo, mas a gente nem ligava, o importante não faltava, seu sorriso, seu olhar ... “
Seu sorriso e seu olhar serão sempre lembrados.
O senhor Placídio Salvador descansa em paz.
Na placidez do Senhor, leveza e paz como também o seu próprio nome indica.
Missa, em sufrágio de sua alma, acontece sexta, 11, na Igreja do Carmo, às 18 horas.
Sentimentos à família.
- Tags
- bernardo campos