Ideal

A mesma matéria publicada neste site, também o é no centenário jornal “A Federação”, em coluna fixa denominada “Ultima Página”. Por isso, tem sido comum que no mesmo texto haja pequenas inserções, ora adequadas a este, ora àquele espaço.

Consigne-se também, antes de se iniciar o assunto de hoje (IDEAL), que neste abril de 2011, completam-se 34 anos de comentários sobre o evangelho semanal dos dias de preceito, a cargo do João Paulo, pseudônimo escolhido pelo autor em 1977, que, a convite do inesquecível Monsenhor Camilo, lá pontificou até o ano de 2008. As “Reflexões do Domingo”, de lá para cá, passaram à responsabilidade abalizada dos reverendíssimos Párocos de Itu, na forma de rodízio semanal entre eles. Da parte do João Paulo, contudo, não houve interrupção. Ele foi generosamente acolhido e assim continua, neste site -  www.itu.com.br, - sob o título de “Reflexão Dominical”, sutil modificação, apenas para manter o mesmo significado e finalidade do trabalho.

Agora, o tema para hoje, propriamente dito.

Aos septuagenários, em qualquer roda de prosa de que participem, muito provavelmente lhes há de ocorrer fatos do passado. Para muitos, sabe-se, tornam-se enfadonhos. Mas eles podem fazer comparações, ao passo que os jovens se limitam ao seu tempo mais curto de vida. Mesmo adultos – cinquentões ou por aí – escutam os experientes um pouco mais e, também, por respeito.

Por isso que, ao idoso – o que raramente acontece – se surpreende de quando um rapaz ou uma moça falam com sinceridade que gostaram de conversar com ele. Quem já ouviu tal declaração, orgulhe-se dela e aprenda a ver que nem todo jovem está tão distraído.

O que se prova e comprova é que a evolução e o progresso em todas as áreas, principalmente as de cunho e uso pessoal (as que mais perto estão de todos, claro), são espantosamente rápidos, a ponto de tornar superado o invento notável de ontem.

Com todas essas regalias, jamais se há de lembrar, para dizer o mínimo, de quando na mais espontânea das atitudes, você não se lastimava de levantar-se da poltrona para a trocar de canais, na escolha dos programas de televisão. Sinta quanto tudo mudou.

E tudo mudou para melhor?

Vige agora, diga-se, a lei do mínimo esforço.

Supridas então tantas necessidades, porque é que, contraditoriamente, não se acha tempo para manter todas as obrigações? Ora, elementar a resposta. Porque de modo geral as pessoas seriam além de desorganizadas, insaciáveis. Querem abraçar o mundo. Se pelo menos estiverem convictas de que ao assumir esse método passaram a ser mais felizes, parabéns.

Entra aí exatamente a placidez dos de idade avançada, que se recordam de quando punham toda conversa em dia apenas e porque todo dia tinham a hora sagrada do papo amigo, sem pressa.

Infelizmente, a tendência atual do acúmulo desordenado de obrigações é algo sem volta.

Para maior agravamento, o fato é que se entra nessa armadilha de maneira automática e se passa a administrar a anomalia inconscientemente. Esse rítmo descontrolado os impede sempre mais de refletir. Daí o mero automatismo.

Uma das mais evidentes influências da falta de senso, vem a ser o consumismo irrefletido, as aquisições supérfluas e até mais caras e fora de seu alcance financeiro. O vizinho tem, também quero. Bem, você viu a van da Cinira. Toda cheia de si ao volante. E o meu aniversário está por aí.

A Semana Santa pois serviria também, além do exame particular de como anda a vida espiritual, para se pensar se tudo que se faz é imperioso e útil. Examinar se muitos dos costumes não se constituem de uma onda comum e cega em que todos embarcam.

Tenta-se, o próprio autor, ou tem tentado ultimamente, de se desvencilhar de afazeres inócuos ou muito além do que o permitem as horas do dia e da noite.

Sem ser absolutamente criança, entrado definitivamente na idade provecta, urge agora recompor hábitos e deveres.

Entre todas as fórmuladas de antídoto contra a mesmice, avulta sem dúvida a conversa amiga, adulta, benfazeja, altiva. Não produz e é deletéria a associação de pessoas quando somente cuidam de inteirar-se das mazelas alheias. Essa prática também não serve.

Se conseguir e encontrar onde e quando, visite. Feliz de você se for procurado.

O homem é gente, pessoa, ser humano e pensante.

Nos tempos de Seminário do Carmo, no primeiro ano, denominado ali de Preliminar, havia aulas de leitura. Ministradas pelo saudoso Frei Eustáquio, uma das lições contava a história de três irmãos, Não Posso, Não Quero e Vou Experimentar. Adivinhe quem se saiu bem na vida.

E porque então não procurar levar vida cheia, plena e só de ações corretas e sensatas, sem desprezo contudo ao mundo à sua volta nem com ares de superiodade, porque daí cai-se no pior dos buracos, o da autosuficiência, superiodade e orgulho. Também não servem.

Nos Cursilhos de Cristandade, outrora, a primeira palestra trazia o título de “Ideal”. Eram pistas iniciais e seguras de uma recomposição de costumes em geral, para reposicionar o homem como um todo.

Qual o ideal, hoje, de cada um?

Pergunte-se e responda a si mesmo, sem pejo, que ninguém vai saber.

E, se tem alguma crença, é tempo próprio e propício, para ver se percebe Deus próximo de si.

Se porventura,  mesmo sem maldade, o tem olvidado por simples descuido, sabe perfeitamente que ao menor aceno ou  lembrança de sua parte,  ele corre pressuroso para o seu abraço.

Tempo de ressurreição. Tempo de alegria. De felicidade e de paz.