Ignácio
Refém do balanço das águas e atracado no tímido píer, somava música ao forte chiado com o encontro entre seu bombordo e a viga de madeira que penetrava o mar agitado. Inesperadamente, ouviu-se o andar pesado do capitão que se aproximava devagar, lutando contra o vento forte que lhe roubou o chapéu e bagunçou seu cabelo. Revolto, o oceano vomitara todas as embarcações para a costa naquela tarde, construindo a plateia de seu drama. Nem grandes navios ousaram levantar âncora daqueles portos fedidos. Ignácio fincou a espada na plataforma, buscando firmeza e, com apenas um salto, sacou a lâmina novamente e se pôs dentro segurando o mastro real com força. Cambaleou na proa, com o semblante fechado, deu um golpe certeiro na corda e libertou o barco. A memória sobre o rompante suprime, ainda hoje, qualquer notícia a respeito do barqueiro e seu paradeiro. A marujada nas tabernas da redondeza invejou sua valentia, as mulheres sentiram saudades e o delegado do balneário deixou de se deitar corno.