Igreja viva
Há cerca de mês e meio – ontem portanto – o mundo entrou em polvorosa e a mídia de todas as partes se concentrou no assunto.
Parecia que as nações iriam parar e, logo, surgiram notícias entre sensatas e despropositadas.
Bento XVI havia renunciado.
Suas explicações, minuciosas, foram acolhidas com a compreensão geral dos povos católicos ou não. Apresentaram a tônica de uma autêntica humildade e desapego. Nos dias entre seu comunicado e sua saída propriamente dita, foi alvo constante da simpatia de pessoas vindas de todas as partes do mundo. Concorridíssima sua mudança para Castelgandolfo, local escolhido para viver dali em diante.
Igualmente surpreendente a rapidez de como os Cardeais decidiram pela escolha do Papa Francisco.
Também ele recebido com alegria pelos fiéis e nas suas atitudes em público revelou imediatamente um modo despojado e simples, muito ao agrado dos seus súditos e por isso admirado da mesma forma por autoridades de outros credos.
Apressaram-se contudo jornalistas e figuras de destaque, a manifestar uma esperança de profundas mudanças na Igreja, tratadas como inserção da Igreja em costumes modernos.
Justamente nessa hora, especulações variadas vieram a público, a enumerar hábitos e práticas hoje vistas com fundadas reservas, esperançosas de um abrandamento geral.
No momento, apesar desses pressentimentos, sente-se a prudência e o cuidado de Sua Santidade, atencioso ao máximo, cauteloso contudo.
O que escapa aos menos avisados – não poucos católicos já não oferecem mesmo e há muito tempo, uma conduta coerente, a permitir entre si e nas famílias, tantas injunções que a liberalidade do mundo moderno quer impor a todo custo.
A essa altura, então, emergem alguns pontos dignos de consideração e reflexão. Escapam até entre os da Igreja, algumas verdades da religião católica, apostólica, romana.
Rezam-se no credo os dogmas de fé, ensinamentos e verdades assim proclamados pelo Santo Padre. Nessas definições, tem-se como assente na Teologia que Sua Santidade está favorecido pela infalibilidade, advinda da assistência do Divino Espírito Santo.
De outro lado, reformar ou mudar ou atenuar as condições intrínsecas dos sete sacramentos, outra impossibilidade. Estão fundamentados na Bíblia, mais precisamente nos santos Evangelhos. Para os dez mandamentos, de mesma origem bíblica, intocáveis também.
Os mandamentos da Igreja, estes sim sujeitos a alterações, aí estão anos a fio e poderiam ser retocados, se necessário fosse. Entretanto, mesmo nesse particular, nenhuma perspectiva sensata pode esperar algo de fundamental modificação.
Em resumo, entre hipóteses, palpites e aspirações, os dias vão se passando e o que se percebe é que aquela agitação popular entre a saída pacífica e humilde de um Pontífice e a serenidade com a posse de outro, é deveras viva demonstração de que paira sobre a Igreja uma benção e acompanhamento sobrenaturais da Trindade Una e Santa. E, em especial, que a existência dela não é indiferente a ninguém. Sempre destacada nos acontecimentos de todas as épocas.
Falhas, na realidade advêm de seus próprios membros, desde o povo simples até em certa parcela da hierarquia, que eventualmente se esquece do geral para centrar-se no particular. Nesses casos, porém, sempre fica patente que, divinamente assistida, é no entanto feita por homens. Falíveis e limitados.
Seja em tempos de calmaria ou da mais preocupante das procelas, os cristãos
encontram nos céus e na terra, quem lhes assegure a verdade na qual confiam.
O averno pode atormentar mas não subjuga a Igreja de Cristo.
Exatamente, enfim, pelo efeito do dogma da Comunhão dos Santos, é que cabe aos fiéis aqui na terra, incorporarem-se aos já assistidos pela salvação, em orações por intenção daquele que ocasionalmente através dos tempos, substitui a Pedro, incumbido de apascentar as ovelhas do Mestre.