Iluminar e alargar a alma
Sempre acreditei nas palavras como minhas aliadas na busca do conforto emocional. Foram muitas as vezes em que as palavras saltaram loucas dentro de mim, feito doidas varridas, para iluminar a alma negra tingida de aflição, indignação, angústia e dor.
Desta vez não foi assim: as palavras secaram!
E, sem saber o que dizer, vejo-me enterrada nas emoções de um tempo que me pegou de surpresa, para dizer que a vida é incontrolável e, por mais inteligência e esforço que se invista numa direção, ela – a vida – pode dobrar a esquina e mudar o percurso, esmagar o sonho da gente − alguns de desejo freudianos −, transformando-o em pesadelo. Tudo assim, de repente, sem licença e sem perdão!
Sim, talvez seja isso. As palavras secaram porque entenderam a gravidade e souberam respeitar aquelas horas em que não tem consolo que se possa dar, não tem palavra que se possa dizer, e a única coisa que vale mesmo é o silêncio profundo de um vazio horroroso. Aliás, o silêncio é sempre mais interessante do que as palavras. No silêncio, tudo pode acontecer. Quem sabe o que se move em salas vazias, nas casas abandonadas, no fim de um corredor, quando não há ninguém?
Penso e quero que toda essa mudança de sonhos; de rota − como diria um amigo meu −, possa alargar a minha “varanda da alma”, como expressou Lya Luft em seu último artigo. Quero ampliar a alma para que nela caiba muita gente boa, tantas outras histórias e, quem sabe, alguns sonhos antigos, esquecidos e perdidos por aí.
Ampliar a alma significa alargar os horizontes; olhar para outros lados; fazer o que nunca se fez; ver gente que nunca se viu; reparar nas pessoas – não para botar defeito, mas para ver a essência − como ensina minha amiga Tê ( Terezinha Rios), com quem , apesar da lonjura de nossas casas, me encontro diariamente pelos tantos livros que ela soube escrever.
Nada disso, entretanto, tem sido fácil, simples e natural. “O sentimento quando vira do avesso é uma flor maligna”, como diz Lya Luft. Meu avesso me derrubou, sangrou a ferida, despejou mágoa, raiva, dor e um desejo imenso de perder os sentidos e viver um breve morrer.
Mas o tempo é mesmo sagrado: com jeitinho, ele vai botando as coisas no lugar, espantando os fantasmas, secando as feridas, trazendo velhos amigos, ampliando, acendendo as luzes e iluminando a alma escura − que me fez me perder de mim!