Impermanência
Tudo passa.
O leite da infância, o choro da escola, os cachinhos dourados, o sono acordado
Tudo passa
O rodamoinho da moleira, a cara de menino, a barba crescendo, a voz engrossando
Tudo passa
O medo do pai, a história do avô, o filho nascendo, o neto crescendo
Tudo passa
O baton da mãe, a comida da avó, a filha esperando, a neta desabrochando
Tudo passa
A cor da saudade, a decepção da amizade, a dor da verdade
Tudo passa
O amor dos olhos, o encanto do encontro, o calor do abraço
Tudo passa
O trem da minha vila vem nos trilhos tortuosos
Leva e traz mensagens e passagens para aqui e acolá
A fumaça apaga, o barulho esconde, o movimento leva
Tudo passa
A velhice, a meninice, a surpresa, a certeza
Os ponteiros, os romeiros, os aventureiros
As promessas, os sonhos, os convites
Sou passante dessa vida
Passo aqui, passo adiante
Dou passos em falso
Abro espaço pra passar
Passo na passarela quebrada
Piso na passagem esquecida
Entro no novo compasso
Repasso o passo e já não é mais o mesmo, porque tudo passa
Nem o que quero, nem o que não quero fica, porque tudo passa
Então só posso levar dessa vida uma coisa. E só posso deixar nessa vida uma coisa: Amor
Talvez o amor não passe.
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- deborah dubner