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Publicado: Quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Impunidade e vingança

O que entendemos por justiça?

Se existe um valor que praticamente qualquer ser humano entende como fundamental, mesmo através dos séculos, este é o senso de justiça. Embora ele tenha sofrido drásticas alterações morais e atravesse as sociedades de maneiras divergentes, passando da lei de Talião (que, de certa forma, ainda é praticada em países como o Irã) até os moldes que conhecemos hoje,  a lógica persiste no princípio da igualdade (que em muitos casos, é desigual). A forma como essa equiparação foi praticada é que fez com que diferentes estruturas sociais se formassem ao longo da história.

Nós brasileiros passamos por um ano em que esta virtude nos saltou o coração a cada nova manchete dos jornais.  Um novo dia, uma nova informação bombástica. Foi este o ano que nos mostrou o desfecho final (será?) do julgamento da Ação Penal 470, o mensalão. Marcos Valério, José Dirceu e seus companheiros, sob  a capa e o pesado martelo de Joaquim Barbosa (que mais tarde se tornaria presidente do STF), conheceram a amargura de um povo fatigado pela impunidade que se arrasta há muito. Um caso inédito para um povo que está acostumado aos trejeitos malufistas de se fazer política, em que a morosidade do Estado pesa mais do que verdades documentadas.

Neste mesmo período, fomos apresentados de perto ao império de Carlinhos Cachoeira, em uma operação montada pela Polícia Federal que ficou conhecida como Monte Carlo. Preso em fevereiro de 2012, solto e preso novamente no início de dezembro, o imbróglio de exploração de jogo ilegal e trâmites fraudulentos expôs figuras nacionais como o ex-senador Demóstenes Torres e os governadores Agnelo Queiroz (PT - DF) e Marconi Perilli (PSDB - GO). Novamente, o brasileiro foi surpreendido pelo desfecho do caso, que ainda está longe de ser esclarecido por completo.

A sensação se arrasta desde 2011: foi a "faxina nos ministérios", como ficou conhecida a atuação no primeiro ano de mandato da  presidenta Dilma Rousseff, que derrubou ministro após ministro, em uma sequência de denúncias e escândalos no governo. O ânimo da população é dos melhores. Mas o que pouco se comenta ou se tem notícia é dos prejuízos e do verdadeiro desfecho que cada uma destes casos culminou. Observando por este último exemplo citado, basta perceber que nenhum dos ministros demitidos por Dilma foi punido. Nenhum centavo desviado pelos mensaleiros foi devolvido aos cofres públicos.

A impressão coletiva é a de que a justiça foi feita e o ponto final foi dado. Mas e partir disso, o que recuperamos? Como correr atrás do prejuízo? Afinal, cadeia não é confinamento para exílio e sim para correção. (ou pelo menos deveria ser, embora na prática seja só depósito de incômodos à sociedade). Alguém realmente acha que homens como o José Dirceu ou o Carlinhos Cachoeira vão "reaprender" alguma coisa porque estão presos?

Cito uma tragédia recente em minha cidade, noticiada em todo o Brasil, como exemplo deste modo unilateral em que costumamos pensar: o desabamento de uma parede com 10 metros de altura, na região central de Sorocaba, levou sete pessoas à morte na noite de quinta-feira (20/12/2012). A primeira reação imediata nas redes sociais, antes mesmo do acolhimento às famílias ou da solidariedade, foi o de buscar evidenciar culpados. Houve até caso de manipulação de vídeos para que se fizesse parecer que o desabamento eminente era tão óbvio que qualquer cidadão o previa. Ou seja: assim que uma ou duas pessoas aparecerem nos jornais sob os dizeres de culpa, tudo ficará bem. Não há famílias em luto. O que se busca é uma cabeça para rolar.

Fica claro: muito mais importante que a privação da liberdade de alguns (ou a demissão de seus cargos) é o ressarcimento dos prejuízos causados a nós brasileiros. Ou no caso de Sorocaba, ao menos a tentativa de amenizar a dor dos familiares. Parece que o senso de justiça social popular retoma os moldes da antiguidade e faz pesar sobre o culpado apenas a própria lei de Talião, com alguns detalhes novos: "se você nos prejudicou, vai pra cadeia se arrepender." Ou vai perder o emprego. É esta a interpretação que temos da estátua cega com e

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