Infância!
Quero falar da minha infância!
Lembro-me dela perfeitamente, parece que foi ontem, mesmo não tendo sido assim tão recente.
Me lembro de coisas banais, amigos que nunca mais vi, lugares que nunca esqueço, roupas que tive, do meu travesseiro preferido, feito de paina - pela minha avó.
Infância nem sempre é uma fase muito fácil para as crianças. Fase de descobertas, mudanças, derrapadas e de muita bobeira, sem dúvida!
Quem nunca aprendeu a duras penas que enfiar alguma coisa na tomada dá choque? Ou que ‘super bonder’ cola os dedos mesmo!? Ou ainda que quando se liga para 190, eles ligam de volta! Usava isso o tempo todo, coisa mais boba!
Quem nunca passou trote não sabe o quanto é divertido! Meus avós eram sempre as vítimas perfeitas.
Infelizmente, uma vez, meu avô recebeu uma ligação de verdade de alguém dizendo que ele tinha recebido um prêmio importante, sei lá de onde - acho que era do Rotary, e ele achando que era trote meu, como sempre, descambou o cara do outro lado. “Para Bí, sei que é você! Para! Fico imaginado a cara do sujeito... uma pena, todo mundo esperando o homenageado, e nada dele aparecer!
É na infância também, que nosso caráter e personalidade começam a se formar. É nessa fase que vemos tudo e repetimos tudo, principalmente, se esses atos vêm dos nossos pais.
Aprendemos a confiar cegamente nessas duas figuras.
Por isso, às vezes, acho que não deveríamos dar tanta confiança assim. Alguém já parou para prestar atenção às letras de canções de ninar que eles nos cantavam para dormir, por exemplo?
Era sempre na hora de dormir, pra gente ficar com aquelas palavras no subconsciente, uma tortura.
Olhando com mais atenção às letras, até entendo o desvio de caráter de alguns adultos...
Deveria servir de atenuante...
Vejam se eu não tenho razão:
“Boi, boi, boi,
boi da cara preta,
pega essa criança....”
Se a criança não dormisse logo, já sabe quem chegava! Medo!
Ou ainda: “atirei o pau no gato-tô-tô,
mas o gato-tô-tô,
não morreu...”
Além de assustadora, ainda faz apologia aos maus tratos de animais! Politicamente incorreto nos dias de hoje!!
“Nana neném
que a Cuca vem pegar...”
Coitada da criança!!! Eu mesma morria de medo da Cuca, principalmente quando ela ganhou forma de personagem no saudoso Sitio do Pica Pau Amarelo.
“Marcha soldado,
cabeça de papel,
quem não marchar direito,
vai preso no quartel”
Ameaças, sempre ameaças! Como pode alguém ter ânimo em seguir carreira militar depois disso!
“Samba-lelê tá doente,
Tá com a cabeça quebrada.
Samba-lelê precisava,
É de umas boas palmadas.”
Além da criança estar doente ainda apanha, pode? Cadê o conselho tutelar?
“O cravo brigou com a rosa,
Debaixo de uma sacada;
O cravo saiu ferido;
E a rosa despedaçada. “
Pancadaria, violência! Depois tem gente que diz que é tudo culpa da TV!
“O pato pateta
Pintou o caneco
Surrou a galinha
Bateu no marreco...”
Pato maldito!! Ainda bem que foi para panela! Esses são alguns poucos exemplos ao que crianças como eu, foram submetidas na infância, e outras tantas.
Pais fazem, por que seus pais fizeram e esses fizeram por que seus pais também faziam, repetição de costumes, cantiga de ninar é uma delas com certeza!
O bom é que as crianças de hoje, muito mais sabidas, aprendem desde pequeninas a dar um olé nos bois, patos e cucas da vida.
Pensando melhor, azar o delas que, não cantam mais e não sabem o quanto é divertido rir, assim que o dia amanhece, das desgraças do pobre “Samba lêlê”.