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Publicado: Terça-feira, 2 de outubro de 2007

Infância estressada: onde está a culpa?

Crédito: banco de imagens Infância estressada: onde está a culpa?
A criança e o stress
Pode parecer estranho, mas o estresse, que há muito tempo leva indivíduos aos consultórios de clínicos e psicólogos, passou também a fazer parte do dia-a-dia da criança. Algumas explicações que poderiam ser aventadas para o aumento do número de pequeninos estressados são a qualidade da atenção oferecida pelos pais, a sobrecarga de tarefas e a extrema competitividade com que as crianças são precocemente obrigadas a conviver.
 
Tentar solucionar o estresse na criança encaminhando-a para o tratamento psicoterápico pode ser uma atitude prudente dos pais, mas nem sempre é o bastante. As causas precisam ser identificadas e tratadas em sua raiz, e, para isso, a família precisa estar aberta para promover as mudanças necessárias. Devemos lembrar que, muitas vezes, o distúrbio apresentado pela criança pode representar o sintoma de uma doença das relações familiares e do ambiente em que a família vive.
 
Além disso, pensar no estresse infantil como doença exclusiva da criança desvia o nosso foco de atenção. Na maioria das vezes os pais sentem que levando a criança ao médico ou ao psicólogo cumprem seu papel e se eximem da responsabilidade por aquelas situações de angústia e desconforto. Resultado: a criança recebe o título de “doente”, ao terapeuta cabe o papel de “solucionador do problema da criança” e aos pais de “pagadores do tratamento” e “chofer”.
 
Neste contexto, é comum ver os pais transferindo parte da responsabilidade da criação dos filhos para os professores da escola, dos cursos de inglês, espanhol, computação, para o preparador físico e, agora, para o psicólogo. Assim, todos esses profissionais incorporam à sua prática profissional o papel de babás ultraespecializadas.
 
No outro extremo desta relação, temos crianças com agendas repletas de atividades: acordam muito cedo, passam horas no trânsito, dentro dos veículos escolares, têm atividades todas as tardes e aos sábados pela manhã, e ainda devem cumprir os deveres de casa – muitas vezes de duas ou três escolas diferentes. Sob um determinado ponto de vista, poderíamos dizer que estes mini-adultos estão sendo “formatados” para se adaptarem precocemente ao competitivo mundo dos adultos. Contudo, devemos nos perguntar: Quando brincam? Quando exercem o direito de serem crianças?
 
Cada um de nós reconhece a infância como uma fase mágica, de fantasia, de diversão. Todos temos, mesmo que escondido em algum canto esquecido de nossos corações, um pequeno baú de lembranças da infância: gostos, cheiros , cores...
 
Infelizmente, nossas crianças têm sido privadas destas experiências: os gostos, são dos hambúrgueres, adquiridos a caminho da escola, os cheiros são de fumaça de automóveis, as cores, são dos monitores de vídeo e as brincadeiras, são jogos eletrônicos, nos quais o parceiro é um concorrente virtual e imortal.
 
São as crianças da nova era, filhos da Pós-Modernidade, grandes potenciais que promoverão a nossa continuidade no planeta, mas que por enquanto SÃO APENAS CRIANÇAS.
 
É inevitável que em tempos de globalização os pais passem a maior parte do dia trabalhando e, conseqüentemente, as possibilidades de encontro com os filhos se tornem cada vez menores. Por isso, o importante é valorizar a qualidade em vez da quantidade: dez minutos de exclusividade com seus filhos valem muito mais do que horas de corpo presente, coabitando o mesmo lar.
 
Pensemos criticamente, nos compromissos que “impomos” aos nossos filhos. Muitos são motivados por nossa crença da necessidade de prepará-los para o futuro. Outros têm o único objetivo de ocupar estas crianças, durante um período em que os pais estão trabalhando e não há ninguém que possa cuidar delas.  Devemos ser críticos e pensar se todas estas atividades são efetivamente indispensáveis.
 
Finalmente, pensemos nisto: dos preciosos momentos que cada um de nós desfruta em casa, quantos são dedicados ao convívio familiar, à conversa, a um jogo...Tentemos começar devagar, abandonando, por exemplo, o aparelho de televisão pelo menos durante as refeições, para que possamos nos olhar nos olhos, e perguntar sinceramente: “Como foi seu dia?”
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