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Publicado: Segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

Infância Roubada

Eu sempre escrevo artigos otimistas, com esse jeito meio “Polianna” de ser. Posso dizer que gosto de ser assim.

Mas essa semana, recebi uma obra de arte em forma de e-mail, criado por alguém que eu não conhecia e que me chacoalhou para o lado de lá, onde as estrelas não brilham, o sorriso não acende e o coração bate muito, mas muito triste.

 “Infância Roubada” mostra de um jeito simples, com palavras duras e fotos avassaladoras, a árdua vida de tantas crianças espalhadas pelo mundo. Claro que não é novidade para ninguém. Sabemos do horror das guerras em tantas partes do mundo. Sabemos das crianças que fazem trabalho escravo por migalhas de dinheiro, dos desnutridos largados, dos adolescentes que se prostituem. Sabemos, mas nossa vida continua. Temos o estranho dom de amortecer essas tragédias e continuar vivendo, como se elas existissem em um lugar muito distante de nós.
 
O autor – um peregrino – cria apresentações em pps há dois anos, garimpando informações e imagens de diversos sites, a maioria em inglês, e mostrando o quanto a nossa humanidade ainda tem que evoluir para ser considerada humana.     Ao fazer contato com ele (eu o procurei depois que vi sua apresentação), fiquei sabendo de muitas coisas. Ele me contou que o seu trabalho está sendo utilizado como material de reflexão em salas de aula, igrejas e outros centros religiosos, retiros, palestras em empresas, etc. E me disse que recebeu respostas de diversos países como Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile, México, EUA, França, Portugal, e até do Japão. Um internauta brasileiro residente no exterior traduziu a apresentação para o inglês, “Stolen Childhood”, e esta versão também já está circulando mundo afora. E o “peregrino” está recebendo pedidos para versões em espanhol e francês, além de ter feito contato com outros grupos que, como ele, estão empenhados em mudar o mundo.

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Everyone a Changemaker
- Children at Risk Foundation – CARF
- Generous Hearts
 
Essa experiência foi para mim um grande chamado. “Como uma pessoa é capaz de fazer a diferença!”, pensei. Quando abri a apresentação poeticamente jornalística, senti imediatamente a minha responsabilidade diante do cenário catastrófico que aflige grande parte da humanidade. O que antes era para mim um “saber”, transformou-se em um “sentir”, que acordou meus sentidos para um senso de urgência e desamparo. Como posso colaborar para que o mundo tenha mais amor e menos guerra? Como posso ajudar crianças desnutridas e desesperadas, longe ou perto de mim, que visitam um lado da vida que mal posso compreender? Perguntas, revestidas de esperança, vazias de respostas, recheadas de desejos, espalhadas por todos os poros do meu ser. O que faço com elas?

Escrever é a minha ponte. Ponte com minha alma, com meus sonhos, com o invisível que mora em mim e que se traduz pelas palavras que meus dedos escrevem.

Eu continuo acreditando no caminho do amor e espero ser assim até o final dos meus dias. Emociona-me ver quantas pessoas estão fazendo, agindo, criando, se doando para que a humanidade se transforme. Nossa felicidade nunca poderá ser completa com tanta dor no mundo, pois tudo o que afeta uma criança, seja em que ponto do planeta for, afeta também a nossa criança. A criança ferida, aquela que é repleta de memórias doídas, sonhos desfeitos, abraços não dados, também mora em nós. Podemos abafá-la, assim como anestesiamos a dura realidade que nos cerca. Mas a vida começa a nos cobrar, para que a nossa criança, mágica e feliz, volte a sorrir alegremente.

O meu pedido é que eu encontre um caminho. E, assim como “o peregrino”, eu espero um dia fazer uma diferença verdadeira na vida daqueles que passarem pela minha estrada.
 
(Quem quiser receber a apresentação, é só me mandar um e-mail, será um prazer!)
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