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Publicado: Segunda-feira, 25 de setembro de 2006

Itu, berço da República

Itu, berço da República
Azulejo do Museu republicano retrata a história

Durante os anos da ditadura de Vargas os republicanos paulistas, apeados do poder pela Revolução de 1930, organizavam verdadeiras romarias para visitar Itu e o Museu Republicano. Segundo eles, Itu era o berço da República por ter sediado a Convenção de Itu , assembléia na qual fora fundado o PRP – Partido Republicano Paulista. Esse movimento era uma forma de reafirmar o discurso de valorização do papel da Convenção de Itu no processo que culminou com a proclamação da República em 1889.

A Convenção aconteceu em 18 de abril de 1873. Nesse dia, os republicanos que estavam em Itu fizeram primeiramente uma reunião preparatória na casa de João Tibiriçá Piratininga. No encontro definiu-se a ordem dos trabalhos da reunião que deveria acontecer à noite na casa de outro notório republicano. Logo à tarde, após o Te Deum na matriz de Nossa Senhora da Candelária, os representantes dos municípios pouco a pouco foram lotando as dependências do sobrado de Carlos Vasconcellos de Almeida Prado, na então rua do Carmo. No saguão da entrada, sobre uma mesinha foi aberto o livro "destinado às assinaturas, não só dos representantes autorizados dos clubes dos vários municípios, como de todos os cidadãos que, declarando-se republicanos, por aquela forma quisessem participar da memorável cerimônia”. Minutos depois das 19 horas o livro de presença, dado por encerrado, foi levado à sala principal da reunião para dar início à reunião.

Iniciados os trabalhos, João Tibiriçá Piratininga foi aclamado presidente e Américo Brasiliense secretário. Depois de uma exposição preliminar sobre os objetivos daquele conclave, discutiram-se e aprovaram-se as bases da organização do Partido Republicano na província de São Paulo. Por último, tratou-se da conveniência da criação de um jornal do partido na província ou da manutenção de auxílio à imprensa do Rio de Janeiro. Debateram o assunto Américo Brasiliense, Ubaldino do Amaral, Cremildo Barata Ribeiro e Jorge Miranda, sendo estes a favor de um órgão do partido na província e de remessas de auxílios secundários à folha da corte. Outros, como Manuel de Moraes, Augusto da Fonseca, Antônio Cintra, Joaquim de Paula Sousa e Joaquim Roberto de Azevedo Marques apoiavam o órgão do partido na corte e a concessão de auxílios secundários ao jornal na província. O presidente João Tibiriçá Piratininga declarou que assunto não deveria entrar em votação, pois não fazia parte das bases já aprovadas. Contudo, ele chamou a atenção dos presentes quanto a "suma importância e grande alcance não se descuidarem os republicanos da imprensa, elemento essencial da propaganda das idéias e princípios”. Dois anos depois surgia o jornal A Província de S.Paulo, hoje O Estado de S.Paulo.

Nada mais havendo a tratar, concluiu-se a ata da reunião, que foi lida e por todos aprovada. Em seguida, Américo Brasiliense transcreveu nesse documento os nomes daqueles que tinham assinado o livro de presença, com a indicação das localidades representadas, "tendo a reunião adotado este meio como mais simples, e em vista da dificuldade, na hora adiantada em que se terminaram os trabalhos, de obter-se que o numeroso concurso de cidadãos prestasse suas assinaturas ao presente livro", conforme justificou o secretário.

Finda reunião, a maioria dos convencionais deixaram o local, permanecendo na sala principal apenas os donos da casa, os membros da mesa que dirigira os trabalhos e um pequeno grupo de líderes, entre eles Francisco Glicério, Jorge de Miranda e Bernardino de Campos. Nesse momento ocorreu um interessante incidente, narrado por José Maria dos Santos: "Sobre a mesa da Convenção, longa mesa elástica de peroba envernizada, alguns dos circunstantes examinavam o livro de presença. A certo ponto, um deles, ao apontar com o dedo uma assinatura, disse a olhar com espanto os companheiros: Mas não é possível! Era Bernardino de Campos. Os restantes acercaram-se. Houve um instante de silêncio. Só se ouvia, sob o contínuo da chuva, o leve roçar das páginas, a voltarem-se no exame geral a que então foi procedido. Depois, a sorrir meio confusos, todos se entreolharam. Então Américo Brasiliense, sentando-se com um lento e calmo gesto de decisão, tomou da pena e riscou com um forte e enérgico traço aquele nome. No livro de presença, a par de muita gente que nem mal nem bem fazia, havia-se insinuado um comboieiro, isto é negociante de escravo!”

A grande maioria dos participantes da Convenção era de fazendeiros do interior paulista, onde a lavoura do café estava em expansão, onde se forjava uma "nova elite poderosa do ponto de vista econômico", receptiva às inovações e ao espírito de racionalização da empresa. Esses fazendeiros-capitalistas fomentaram a introdução de imigrantes europeus, substituindo o braço escravo pelo trabalhador assalariado, aperfeiçoaram os métodos de beneficiamento de produtos agrícolas, investiram capitais na ampliação da rede ferroviária e sob a prática desta nova mentalidade a fazenda "tradicional" se ajustou à economia e à sociedade "modernas".

Para alguns analistas, o resultado da Convenção de Itu foi autorizar a eleição de representantes de um futuro Congresso Republicano, com sede na capital, onde em câmara seleta e menos sensível a agitações o programa definitivo se assentasse. Martinho Prado Júnior, um lúcido e pioneiro fazendeiro representante típico daqueles empreendedores capitalistas, entendeu que o verdadeiro significado dessa primeira grande reunião dos republicanos da província não foi somente a elaboração das bases da organização do PRP. Em um banquete realizado a 5 de janeiro de 1882 no Teatro São Carlos, em Campinas, ele ergueu um brinde à Convenção de Itu, à qual se referiu como sendo " a concretização de todas as forças dispersas do partido republicano da província, a reunião de todos os germens inertes, próprios e aproveitáveis para futuras lutas, o enfeixamento de todas as centelhas amortecidas que deviam constituir o foco deslumbrante, que hoje atrai, fascina e guia os patriotas, nas jornadas difíceis para a conquista dos verdadeiros e únicos princípios democráticos que hão de salvar o Brasil".

Federação e autonomia são filhas exclusivas das transformações que vinham ocorrendo na estrutura econômica do

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