Publicado: Sábado, 30 de dezembro de 2006
João e Nenita
Pessoas, quando partem, deixam apenas lembranças. Após a existência de cada um de nós, restarão somente as recordações das coisas que fizemos, das palavras que dissemos, das mensagens que espalhamos. Como sempre acontece após a partida de alguém que conheci, recordei alguns fatos a respeito do Diácono João Antônio Motta Navarro, falecido no dia 27 de dezembro.
Há pessoas mais qualificadas para falar disso, com muitas décadas de convivência com ele. No que me diz respeito, nossa convivência limitou-se a celebrações na Matriz da Candelária, além do tempo em que trabalhei como jornalista de A Federação. Para todos ele era o “seu” João. Impossível pensar nele sem recordar a figura de Nenita Navarro, sua esposa por tantos anos, falecida em 27 de maio do ano passado. João e Nenita eram companheiros de caminhada na fé, porto seguro um do outro em um casamento duradouro.
Certa vez, logo que ingressei no meio jornalístico, fui convidado a participar de uma reunião da Pastoral da Comunicação. O convite veio de Dom Amaury Castanho e seria realizado na residência episcopal, em Jundiaí. O então bispo diocesano telefonou-me dizendo que eu poderia pegar uma carona com o Diácono Navarro, que também iria para a tal reunião. E assim aconteceu.
A estrada entre Itu e Jundiaí ainda não era duplicada, muitos devem lembrar que era cheio de curvas perigosas. Em um determinado trecho da estrada, o diácono resolveu ultrapassar um caminhão. Deu sinal de seta e estava no meio da ultrapassagem, quando viu um outro caminhão se aproximando ao longe. Percebi que ele teve aquele instante de dúvida, normal a todo motorista: “Acelero ou freio?”, deve ter pensado.
Com um sorriso maroto, o diácono olhou-me de lado e disse: “Ah... Vai ter que dar...”. Era ele me avisando, pois logo em seguida acelerou o carro para concluir seu intento. Até hoje foi a ultrapassagem mais emocionante da minha vida e sempre lembro disso quando eu mesmo tenho que fazer uma. Depois de concluído o ato, o motorista gargalhou e depois contou a história para os presentes à reunião de Jundiaí.
Guardarei na memória, também, as tantas vezes que o Diácono Navarro cumprimentou-me no momento do abraço da paz, nas missas. Ele saía do altar e cumprimentava quem estivesse ali perto dele. Fazia questão de sempre fazer isso usando expressões latinas: “Pax tecum! Dominus vobiscum!”. Fiquei um tempão tentando adivinhar o que ele queria dizer com aquilo, até que resolvi estudar e aprendi que se tratava da saudação feita antigamente, em latim, antes do Concílio Vaticano II.
Seja como pessoa, professor, escritor ou diácono, o “seu” João vai deixar na lembrança de todos algo que é inegável: sua extrema e amorosa dedicação à Igreja. Uma história de amor com a comunidade paroquial de Nossa Senhora da Candelária que durou mais de 40 anos e inclusive nos seus últimos dias de vida. Tantas coisas realizadas ao lado de sua esposa Nenita, que também tem seu quinhão de mérito nos trabalhos ao lado do marido. Casais como eles foram, infelizmente estão se tornando raros nestes tempos modernos.
Certamente Deus é grato por tudo o que João e Nenita fizeram pela Igreja. A nós cabe rezar por suas almas e cultivar o sentimento de gratidão por duas vidas tão empenhadas no serviço ao Senhor.
Requiescat in pacem!
Amém.
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