Joias da prateleria
Pode-se dizer que em todas as casas sempre existam livros, mesmo que o sejam em pequena quantidade. Quando assim não for, ao menos os compêndios escolares, talvez já em desuso, fiquem em algum canto das estantes.
Entretanto muitos acabam por criar pequenas bibliotecas ou ainda de razoável tamanho e, nesses casos, até com a existência de exemplares importantes e raros.
Conte-se também ocorrer muitas vezes o simples prazer de poder contar com livros particularmente apreciados. São vistos como relíquia.
De cunho educativo na formação religiosa, ao início da década de sessenta, logrou-se encontrar os quatro volumes de uma coleção preciosa, utilizados em tempos de colégio, de autoria do erudito Monsenhor Álvaro Negromonte. Aplicável às quatro séries ginasiais da época. O renomado sacerdote, nascido em 1901, nordestino de Timbaúba, Pernambuco, fora Diretor do Ensino Religioso na Arquidiocese do Rio de Janeiro
Estão hoje esses exemplares levemente escurecidos e desgastados, mas em perfeita condição de uso.
Vieram todos a público através da editora conhecida por Edições Rumo S.A., talvez extinta.
O volume da primeira série, intitula-se Minha Vida Cristã. Décima edição.
Doutrina Viva, o título do volume dedicado à segunda série, este em décima oitava edição, refundida.
Muito apropriadamente, conferiu-se ao volume para a terceira série, o expressivo título de As Fontes do Salvador. Décima nona edição.
Já para a quarta série foi destinado o livro denominado O Caminho da Vida. Vigésima Edição.
O enfoque da existência de material especialíssimo é oportuno, apesar de tantos anos passados, justamente pela profundidade de como o consagrado autor aprofunda o ensino religioso católico. É certo e sabido que poucos se inteiram mais a fundo de sua crença e se pratica muito mais um catolicismo superficial, em matéria de doutrina.
Outra consideração importante, a da importância que se dava antigamente à educação, levada realmente a sério. As Fontes do Salvador, em especial, trata minuciosamente dos Sacramentos. Na sua leitura e aprendizado se constata principalmente o quanto a liturgia da Igreja se simplificou. O ritual do Batismo, por exemplo, se feito no rito desse livro, demandaria um tempo enorme, algo impensável no mundo moderno e no pragmatismo de hoje. Claro que o grosso das mudanças adveio do Concílio Vaticano II e lhe sobra autoridade para ensinar. Entretanto, no mesmo raciocínio, também se há de dizer que o conhecimento da religião pelo povo de modo geral, é apenas pífio e superficial.
Na abertura das lições sobre os Sete Sacramentos, capta-se com facilidade a definição singela e límpida do saudoso Monsenhor Negromonte. Ele ensina:
“Sacramento é um sinal sensível e externo, instituído por Nosso Senhor Jesus Cristo, para nos conferir a graça.”
O insigne mestre salienta em seguida os três pontos patenteados na essência dos Sacramentos: o sinal sensível, a produção da graça, a instituição divina.
Uma coroação dessa série de livros, tem-se finalmente naquele direcionado para o antigo curso colegial: História da Igreja. Este, por exceção, publicado pela Livraria José Olympio Editora.
Apesar de tanta sabedoria e ciência, no prefácio o autor relaciona as doutas obras consultadas e afirma que, para a História do da Igreja no Brasil, o melhor subsídio é ainda (1961) “O Catolicismo no Brasil”, do Padre Júlio Maria.
Um pouco abaixo do prefácio, em separado, consigna o Monsenhor Álvaro Negromonte:
“Sendo nova a realização de uma História da Igreja nestes moldes, numerosos serão os seus defeitos, também por este motivo. Serei muito grato aos que mos indicarem, para devida correção em futuras edições.”
No regionalismo baiano, o refrão “prateleira de cima”, indica material de boa qualidade.
Merecem-no sem dúvida os livros do Monsenhor.