Jornalismo, intuitivo por excelência
Num momento em que volta à baila a conveniência ou não das faculdades de jornalismo, sempre cabem mais algumas considerações.
Muitos comentários, diferentes e contraditórios também, que no entanto enriquecem a matéria, respeitáveis todos eles.
O fato é que há pessoas, ainda na meia infância, que já se interessam pela leitura, em geral. Outrora, por exemplo, os tradicionais gibis eram devorados. Nesse plano, hoje, então, pululam publicações à vontade.
De uma inquietude sadia, buscavam alguns sempre algo mais à frente, o que os distinguem em situação privilegiada perante a maioria menos interessada. Vinha por assim dizer um destaque para tais pessoas, de forma muito natural e espontânea. Tudo, como resultado de algo inato.
Com facilidade, nos bancos escolares, reconhecia-se em alguns jovens a desenvoltura precoce de um estilo próprio, a não lhe faltar o tom fluente e agradável.
Do jornalzinho da escola saltava-se de um passo para um dos semanários da cidade.
E hoje, por se viver tempos “modernos”, esses vocacionados em geral buscam uma faculdade de jornalismo e se diplomam com louvor. Para melhor dizer, ratificam o quanto o instinto já lhes trazia no íntimo.
Não labora em erro, de outro lado, quem afirme, a respeito de jovens, moços e moças, não necessariamente por meio de vocação, para as diversas áreas da vida profissional, que possam eles, mesmo assim, virem a ser médicos, engenheiros, advogados, dentistas e o que mais seja, todos de bom nível. Não teriam nascido para aquele determinado mister, mas terão condições de dar boa conta da profissão abraçada. Sem maiores problemas. Justamente porque o ensino superior supriu-lhes as possíveis lacunas, ao lhes fornecer um conhecimento específico.
No jornalismo, contudo, faz-se logo distinguir os seus artífices, pelo modo como se expressem. O linguajar é típico e característico, em cada um. Nesses casos, autor e leitor, por distantes que estejam, encontram-se como se fora ao vivo muitas vezes, tamanha a identificação alcançada por um bom texto. Machado de Assis, não tinha curso superior e, além de romancista colaborou assiduamente na imprensa. Algumas de suas obras, por sinal, antes de ganharem o formato de livros, perpassaram em série pelas colunas que mantinha na melhor imprensa da época.
É desse dom inato, intuitivo, espontâneo e natural que mais uma vez se fala aqui e agora.
Destes dias, num comentário do Estadão, veio a referência a um livro editado na vizinha cidade de Capivari, sobre o notável escritor, Leo Vaz (Leonel Vaz de Barros), filho da terra.
Leo Vaz, a par dos poucos livros de sua autoria, mas como atividade principal e marcante, galgou ao mesmo tempo todos os degraus da imprensa e chegou a diretor do renomado diário paulista. Passara antes pelos cargos de redator e secretário.
Curiosamente, a autora dessa obra sobre Léo Vaz, uma nonagenária, fez resultar em livro, anotações e recortes recolhidos durante anos a fio. Trata-se de senhora nonagenária, Virgínia Bastos de Mattos, mas da qual não se apuraram informes ultimamente.
Esta crônica se inspira pois, percebe-se, de tal notícia do Estadão.
Eis um trecho de um dos livros, elucidativo, do próprio Leo Vaz, a corroborar que o jornalista de antanho vinha sim de dentro das velhas tipografias.
“(...) O cheiro da tinta de impressão e o tique taque do componedor logo me levaram à freqüência da Gazeta de Piracicaba (...)”, cita o autor em Páginas Vadias.
O jornalista autêntico surge por si. Naturalmente.
Ainda de Leo Vaz: O Professor Jeremias, O Burrico Lúcio.
Os livros terão nascido mais por diletantismo, talvez, sem que por isso em nada se diminua o brilho e o interessante do seu conteúdo. Isso, para dizer apenas dos livros do escritor capivariano.
Sua lida diária, contudo, - e de longos anos, - foi de estreita vivência jornalística.
A “escola da vida” e a vocação espontânea o levaram a atuar como diretor do mais conspícuo dos órgãos de imprensa do país.
Jornalista por excelência.
Intuitivo.