Publicado: Sábado, 13 de janeiro de 2007
Jornalista: Vida Fácil?
Quarta-feira, 10 de dezembro. Acordo às 6h. É dia de mais um fechamento de “O Verbo”. Melhor chegar mais cedo em Jundiaí. Às 7h30 já estou diante do computador, na redação da Sala Multimídia. Começa a diagramação da edição comemorativa dos 40 anos da Diocese, com 20 páginas. Fora algumas pausas para café, banheiro e esticadas das articulações, não paro pra nada.
É preciso correr, montar o maior número de páginas possível para colaborar com os colegas da equipe. Penso no recesso que virá dias depois, quando começarem as férias curiais. Dez páginas e 12 horas depois, termino a minha parte. São 20h e o último ônibus para Itu partiu há 60 minutos. Sem carro, vou até a rodoviária. Não há mais transporte para Itu, Salto ou Cabreúva. E nem começou a novela das 21h ainda! Um absurdo...
Restam duas alternativas: São Paulo ou Campinas. Imaginando o que está por vir, escolho a segunda opção. Compro passagem para as 21h. Subo correndo até o centro de Jundiaí. Quero fazer saque num caixa eletrônico, pois nunca se sabe onde certas andanças vão terminar. Desço de volta pra rodoviária na mesma correria, carregando minha maleta. Encaro uma coxinha com Diet Coke no bar em frente. Na banca de jornais, adquiro um exemplar da revista “Piauí”, minha arma contra o tédio da viagem.
São 21h50 quando o ônibus chega à rodoviária de Campinas. Vou até o guichê, na inocente esperança de haver algum horário para Itu. A esperança é a última que morre, menos em relação ao transporte inter-municipal da nossa região. Ônibus pra Itu? Nada feito... O jeito é ir para Indaiatuba, no carro das 22h10. Encosto num canto esperando a hora passar.
Que bom estar em Indaiatuba, menos longe de casa! São 23h05. O próximo carro para Itu sai em 45 minutos e passará em Salto antes. Arranjo um lugar pra sentar, próximo ao ponto de táxi. Um dos taxistas tem um Vectra prateado, novo e lindo... Acho que vou virar taxista... Vou pensar mais nesse assunto...
A melhor forma de usar o tempo é saber aproveitá-lo. Em três quartos de hora, decido não esquentar mais o meu assento no assento da rodoviária. Resolvo dar uma volta pelas proximidades. Graças ao bom Deus, surpresas boas acontecem. Descobri uma chopperia até então desconhecida por mim. Enfim, meu happy hour! Entro e peço um chopp claro, com colarinho, pois sou profissional. Para desfazer lembranças da coxinha, o garçom me traz uma empada de camarão, que só não estava ótima para o próprio e finado camarão.
Ter apenas 25 minutos de happy hour é quase uma ofensa, mas pior seria perder o último ônibus para Itu. Pago a conta (não disse que seria bom passar no caixa eletrônico?) e pego um cartão da chopperia. Escrevo na agenda: “voltar lá outro dia... URGENTE!”. Novamente na rodoviária, chego dez minutos antes da partida. O taxista do Vectra prateado continua ali parado. Vou pensar no assunto... Jornalista, taxista... É tudo com “ista”...
Tem dias que o hoje já é amanhã. Seis horas mais tarde do que o habitual, chego na rodoviária de Itu à 0h30. No tempo que levei para fazer o trajeto Jundiaí-Campinas-Indaituba-Salto-Itu, certamente teria chegado ao litoral paulista, mesmo contando com os congestionamentos habituais e alguns outros contratempos possíveis. Foram 4h30 da redação até em casa. Uma verdadeira saga.
Após 19 horas de atividades sem pausa, o sentimento de “dever cumprido” me ajuda a continuar carregando a maleta. Cadê a vida fácil do pessoal da Imprensa? Ser jornalista é bom, mas cansa. Ao contrário do que diz a lenda, não tem nada de glamouroso. Aliás, ser Salathiel de Souza também cansa às vezes (a mim e aos outros) e não tem nada de mais. Como a grande maioria me diz que não sou tão mau assim, então continuarei sendo eu mesmo com muita satisfação. Porém, ainda acho que vou pensar no assunto de virar taxista...
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