Karen Kerida (in memoriam)
Escrever sobre as coisas da vida às vezes é triste, por causa do dever de escrever vez em quando sobre as coisas da morte. Algo que parece tão distante e aplicável somente aos outros, mas que está sempre nos rondando e mais perto do que imaginamos.
Os familiares e amigos de Karen Francielle estão mais tristes hoje, dia que será sempre lembrado como o da sua despedida final desta terra. Acometida, há alguns dias e de modo repentino, por uma grave e veloz enfermidade, foi chamada de volta por Deus.
Tinha 16 anos quando a conheci. Foi trabalhar comigo, contratada pelo Zezinho, na Livraria Maranatha. De cara percebia-se o seu jeito inconfundível: sorriso franco, meio envergonhado, olhos espertos, simplicidade no agir. Divertidamente destrambelhada nos gestos, inspirava fragilidade.
Muitas pessoas podem atestar sua simpatia natural. Franzina, fazia-nos todos ficar cheios de cuidados para com ela. Dos tempos em que trabalhamos juntos (foram cerca de dois anos), lembro das frases corriqueiras: "Almoçou, Karen?"; "E a escola?"; "Foi pra balada, né?"; "Dormiu direito?"; "Tá se cuidando?". E por aí vai.
Sua maior alegria foi ter descoberto o dom da maternidade com o nascimento, há seis meses, do filho Miguel. Nas redes sociais fica mais que evidente seu amor de mãe, nas pequenas e grandes descobertas que o cotidiano reserva para as mulheres que possuem tal felicidade.
Foram muitos os parentes, os amigos, as amigas e até mesmo algumas pessoas que conheceram Karen brevemente, manifestando-se com preces e mensagens de apoio desejando que se recuperasse. Do mesmo modo, grande número de pessoas manifestou pesar, dor e luto por causa de sua passagem desta para a outra vida.
Karen, enfim, descansou. O escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe disse certa vez que "a vida é a infância da eternidade". Se é assim, Karen passou brincando por nós, nesses ligeiros 21 anos de existência. Jovem honesta, moleca brincalhona. Gente do bem, de coração generoso. Moça alegre e feliz, mesmo diante das dificuldades impostas pela vida.
Nas minhas preces de hoje por essa kerida, pensei: "Que mundo besta, meu Deus!". De fato, há dias que poderiam nem existir. Que mundo besta é esse que arranca no auge da vida e da maternidade uma jovem com tanto pela frente?
Para quem tem fé (e Karen, ao modo dela, tinha fé), a vida neste mundo é como um espelho. As lágrimas depositadas aqui são resgatadas na eternidade na forma de alegres gargalhadas. A dor da perda de hoje é a garantia do reencontro futuro. Com a partida de Karen, perdi uma irmãzinha. Mas ganhei no Céu outra intercessora, que agora há de pedir por mim e por muitos, em nosso favor. O nosso amor por ela jamais morrerá!
Deus está com Karen neste momento, enxugando-lhe os olhos. A morte já não existe, nem luto, nem clamor, nem dor. Tudo o que é antigo passou. Está agora desfrutando do manancial da vida, recebendo a herança reservada por Aquele que renova todas as coisas.
Descanse em paz, Karen Kerida! E até breve, pois um dia estaremos juntos novamente!
Amém.