Publicado: Segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Laços de Família
Perla sempre soube que Carlos não era o seu verdadeiro pai, mas o considerava como tal. Sempre o chamou de Papai, pois ele fora o único pai que conhecera.
Foi ele que levantou a noite para procurar sua chupeta perdida, que brincou com ela, contou-lhe histórias, levou-a ao circo, mais tarde, às festinhas, deu-lhe umas broncas de vez em quando, enfim, fez tudo o que um verdadeiro pai faz.
No seu documento constava o nome do seu pai: "Bartolomeu Sampaio de Lara". Por muito tempo esse nome não lhe dizia nada. Era apenas o nome de um pai ausente e desconhecido.
Perla teve uma infância feliz.
Tinha três avós enquanto todo o mundo tem, quando muito, duas. A Vó Aurora com o Vô Zico moravam na rua do fundo de sua casa e havia um portãozinho que comunicava os quintais. Perla podia ir e vir à vontade sem ter que sair na rua e praticamente morava nas duas casas.
Ficava com os avós quando os pais saiam. O Vô Zico a levava a escola, tomava-lhe a lição e acobertava-lhe as travessuras. A Vó Aurora cumulava-a de paparicos, fazia seus petiscos prediletos e ajudava-a nos trabalhos manuais.
A Vó Júlia com o Vò Júlio moravam em uma chácara na saída da cidade e reuniam nos fins de semana a numerosa família para o almoço de domingo, o bate papo, o jogo de futebol, enquanto a criançada se divertia nadando na piscina, jogando bola, trepando nas árvores, brincando e brigando.
A terceira avó era a mãe do Bartolomeu, Leocádia (não gostava que a chamassem de dona muito menos de avó) era muito diferente das outras avós. Viúva, morava sozinha em um apart-hotel elegante. Era bonita e sofisticada, freqüentava a alta sociedade e estava sempre na coluna social.Gostava muito da Perla e vinha freqüentemente buscá-la para passar o dia com ela.
Edna, a mãe de Perla não simpatizava muito com a ex-sogra, mas não podia impedir que se relacionasse com a menina que, afinal, era sua neta. E a Perla ia passear com ela, vestindo o seu melhor vestido e ouvindo ainda as últimas recomendações da mãe:
- Comporte-se! Cumprimente! Agradeça! Peça licença!
Leocádia agradava muito a Perla. Levava-a para passear e comprava-lhe presentes caros, jóias, brinquedos sofisticados, roupa de marca.
Quando Leocádia convidou a Perla para ir com ela aos Estados Unidos fazer uma visita ao pai que morava lá, Perla ficou radiante, mas, sua alegria durou pouco, pois a mãe disse que não deixaria que ela fosse procurar esse pai que a abandonou ainda bebê nunca se incomodou com ela.
A partir daí começou uma verdadeira disputa entre Edna e Leocádia.
Leocádia afirmava que o Bartô era uma excelente pessoa e que quando foi trabalhar nos Estados Unidos, Edna se recusou a acompanhá-lo e pediu a separação.
Edna dizia que ele estava desempregado e fora aventurar-se na terra estranha. Ela não podia acompanhá-lo com uma criança recém-nascida. O casamento já estava em crise e ela imaginou que ficando um pouco de tempo afastados, talvez voltassem a se entender. Ou ele voltava ou ela ia para lá quando ele estivesse estabilizado.
Mas não foi isso o que aconteceu. Ele arranjou outra mulher e pediu a separação.
Mais tarde ela casou-se com o Carlos e tudo se acomodou.
Agora a Leocádia queria levar a Perla para junto dele. Ele que nunca se incomodara com ela! Não! Enquanto a filha fosse menor e dependesse de sua autorização ela não deixaria que fosse.
Perla ficava dividida. Não queria contrariar a mãe, mas a proposta da Leocádia era tão fascinante!
E ela insistia, chorava até que a mãe perdia a paciência com ela. Depois ficava com pena. Afinal ela era apenas uma criança! A culpada era a Leocádia que ficava pondo minhocas em sua cabeça.
Perla começou a tratar mal o Carlos e respondeu-lhe agressivamente quando ele opinou sobre a viagem:
- Você não tem nada com isso. Não é o meu pai!
Carlos ficou muito magoado e desde então passou a tratá-la com frieza.
Perla não queria mais ir à chácara dos avós Julio e Julia porque, afinal de contas, eles não eram nada dela, sua avó paterna era a Leocádia e ninguém mais.
Tudo isso foi criando um clima desagradável entre todos que até então tinham sido tão amigos.
Mas, assim que a Perla completou a maioridade, Leocádia planejou uma viagem pela Europa. O Bartô iria encontrar-se com elas e fariam juntos a tournée.
Edna não gostou, mas não conseguiu impedir. Perla e Leocádia partiram para a viagem de um mês.
Quando desembarcaram em Londres, o Bartô e a mulher já os aguardavam.
Perla teve a primeira decepção. O pai foi muito frio com ela e ela sentiu-se como uma estranha forçando uma aproximação que ele não parecia desejar.
No entanto, com a mãe ele foi muito carinhoso e durante todo o passeio ficou ao seu lado, conversando com ela, dando-lhe toda a atenção, ignorando por completo a sua presença e a da madrasta.
Mary, a madrasta, não falava português e Perla, apesa
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