Lembrança dos mortos
A época é oportuna para lembrarmos-nos dos mortos, naturalmente daqueles com os quais convivemos mais, ou por qualquer outro motivo ou circunstância, deixaram indefectível marca.
Nessa breve incursão ao passado revemos parte do filme de nossa vida em câmara lenta, nos detendo mais em alguns trechos, de acordo com a sensibilidade ou a emotividade do momento.
Não é recomendável o saudosismo exagerado, pois a vida é caminhar contínuo para novas paragens, porém o retrospecto dos bons momentos, inclusive daqueles que representaram grandes sacrifícios e até tristezas, podem servir de regozijo e também satisfação, por constituírem proezas das quais, nunca nos julgaríamos capazes de praticá-las.
Fixo-me agora à época dos meus, 17-18 anos, em que ingresara no curso colegial, ao mesmo tempo em que acabara de prestar o serviço militar (Tiro de Guerra), então obrigatório e de difícil escape.
Todos os meus parentes dessa época se encontram mortos, com exceção de duas cunhadas, dos sobrinhos, então pequenos, primos, o mesmo acontecendo com os professores e grande número de colegas.
Onde se encontrarão? Como cristãos e, com variável e melhor aproveitamento das graças recebidas nesta vida, eles, seguramente, se encontram em algumas das inúmeras moradas destinadas aos justos pelo Pai Celestial.
A vida que compartilhávamos naquele tempo, irrepetível e diferente, como todas as épocas que se sucedem, pode trazer ternura e emotividade de alguns bons e saudosos momentos.
Naquela época a religiosidade, predominava, a ponto dos “colégios de padres e freiras” serem preferidos para melhor formação e educação. Tive a ventura de estudar em ginásio e colégio de Irmãos Maristas, a ponto de, participando do Tiro de Guerra, despertar ás quatro da manhã para assistir a missa dominical das 5 horas no Mosteiro de S. Bento, lembrando que não existiam ainda as vespertinas e faltar à missa, sem motivo relevante ou justo era “pecado mortal”!
Hoje constatamos acentuado declínio da religiosidade, consistindo a tendência na inobservância de alguns mandamentos (do Decálogo e da Igreja) e no irrestrito predomínio da irreverência aos valores morais e espirituais. Igrejas, padres e freiras são assaltados e recentemente na cidade paulista de Orlândia até hóstias consagradas foram profanadas!
Aproveito a oportunidade para fazer breve citação de eminentes pregadores de outrora, bispos, padres, religiosos que tive oportunidade de ouvir em solenidades diversas: Irmão Amâncio, Dom Luiz Maria Alves de Siqueira, Dom Frei Henrique Goland Trindade, Monsenhor Francisco Bastos, Padre Roberto Sabóia de Medeiros, Padres Fernando Pedreira de Castro, Henrique Chabassus, Dom Antonio de Castro Mayer, cardeal Vasconcelos Mota, Monsenhor Emílio José Salim e muitos outros, cujos nomes não me ocorrem no momento.
Se vivos fossem, ficariam horrorizados, sem dúvida, com a lastimável degradação dos costumes e valores cristãos que, então, proclamavam ardorosamente.
Ao relembrarmos-nos dos mortos, em Finados, não nos esqueçamos desses grandes vultos, cujas sementes então plantadas, poderão ainda - quem sabe? - germinar e florescer nestes lastimáveis tempos de descristianização.
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