Publicado: Sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Lembranças de Dom Gil
Mal havia começado o dia 7 de janeiro de 2004, quando recebi a ligação do finado Dom Amaury Castanho. Disse-me: “Filho, desculpe interromper suas férias... Mas preciso que venha para Jundiaí me ajudar. Farei uma coletiva para dar a notícia da nomeação do meu sucessor à frente da Diocese de Jundiaí”.
Fiquei curioso. Quem seria? Após mais de um ano, o Papa finalmente havia escolhido um substituto para Dom Amaury, já com seus 75 anos. Aconteceu a coletiva e surgiu o nome de Dom Gil Antônio Moreira. Pelo perfil, logo vi que seria um ótimo bispo para nós. Em particular, Dom Amaury confessou-me que gostou da escolha do Santo Padre e tinha confiança de que, assim como ele até então, Dom Gil também iria pastorear a Diocese com muito amor.
Dias depois, em sua primeira visita após a nomeação, pedi pela primeira vez a bênção a Dom Gil Antônio. Alguns sequer dão importância ao ato, mas não eu. Pedir a bênção é hábito saudável. Sempre é bom ser abençoado pelos homens de Deus, além do que o pedir demonstra respeito e admiração.
Essa primeira visita foi muito boa. Dom Amaury mostrou ao sucessor as dependências da residência episcopal. Apresentou-me e disse no que eu poderia ser útil. Em seguida, visitaram a Cúria Diocesana. Percorreram todos os departamentos e salas do “amplo e moderno” Edifício Cristo Rei (entre aspas, como dizia Dom Amaury), conhecendo cada um dos “colaboradores” (funcionários). No final, fiz uma foto dos bispos ladeando a bela imagem da Sagrada Família que se encontra até hoje na entrada do prédio.
Veio a grande solenidade de posse de Dom Gil, transmitida pela TV Canção Nova. Pouco tempo depois, decidi acompanhar o bispo emérito. Pedi dispensa a Dom Gil e voltei a trabalhar em Itu com Dom Amaury: meu professor, meu amigo, meu irmão, meu pai espiritual. Testemunhei a tranqüilidade e a discrição do bispo emérito, dizendo-se aliviado por ter sido substituído à altura e tentando não se intrometer no pastoreio do “jovem e preparado novo bispo”.
Faltando apenas três meses para o falecimento de Dom Amaury, surgiu a oportunidade de voltar a trabalhar na Cúria Diocesana. Em uma tarde ensolarada, Dom Gil esteve em Itu e me chamou para conversar no escritório do Seminário Propedêutico, anexo à Igreja do Bom Jesus.
Disse-me que precisa de um jornalista para compor a equipe do jornal diocesano “O Verbo” e fez-me o convite. Entrou em detalhes sobre salário e carga de trabalho semanal. Pulei como um atleta olímpico e não chorei porque a surpresa sufocou a emoção. Aceitei o convite e pedi a Dom Gil que contasse a novidade a Dom Amaury, que por sua vez também deu pulos de alegria.
Veio a morte de Dom Amaury e fui testemunha do carinho e do respeito que Dom Gil a dedicou a ele em seus momentos finais. Sentindo a dor dessa grande perda, mas consolado pelos exemplos deixados por Dom Amaury, continuei dedicando o meu trabalho amoroso à Diocese de Jundiaí.
Não nego: sentia-me não apenas um funcionário ou um fiel do rebanho. Mas, pelo meu histórico comportamental e jeito de ser, fui sim um homem digno da confiança destes dois bispos. Trabalhar para Dom Gil foi também um aprendizado, haja visto ser um bispo exigente, atento a detalhes e sábio em suas orientações. Nesses três anos servindo a Diocese, levei duas ou três reprimendas quanto ao meu trabalho. Mas não foi nada de grave, graças a Deus.
Em março Dom Gil irá para Juiz de Fora (MG). Tenho certeza de que lá irá fazer também um bom trabalho. Já não poderei mais auxiliá-lo e sentirei falta dos momentos de descontração, quando então ele contava alguns de seus “causos”. Rezemos todos para o êxito de mais esta etapa em seu ministério episcopal, bem como para que Deus providencie para a Diocese de Jundiaí um ótimo substituto.
Amém.
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