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Publicado: Segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Loucuras de amor

 

Quando os ciganos chegaram à pequena cidade e armaram suas tendas todos acorreram para comprar os artesanatos, assistir às exibições de bailados típicos e conhecer um pouco da cultura dessa gente de hábitos diferentes e curiosos.

Mas o que mais atraia era a Adivinha que por uma pequena quantia lia a sorte das pessoas. Se ela realmente era privilegiada com o dom de saber o futuro, se era uma embusteira ou uma psicóloga inata ninguém sabia nem queria saber. Acreditando ou não gostavam de estender-lhe a mão para que ela lesse o que lhe reservava o futuro.

Nadja era uma bela moça e, principalmente os rapazes, aproximavam-se com a desculpa de ver a sorte, só para ter por uns minutos sua mão entre as dela e dar um dedo de prosa.

Na verdade ela era muito esperta e percebia o que a pessoa estava querendo, um amor, um novo emprego, uma viagem, uma surpresa. Mesclava com algumas coisas não muito boas para contrabalançar, um prejuízo financeiro, uma má noticia.  Sempre havia coisas vagas como um amor impossível, ou secreto, ou que se consumaria com uma dúzia de filhos, dinheiro que ganharia um dia ou o falecimento de uma pessoa conhecida.

Um rapaz se aproxima, estende-lhe a mão com um sorriso e pede para ela ler a sua sorte.

-Vai haver uma grande mudança em sua vida. Você vai se apaixonar por uma moça de classe social diferente da sua. Vão ter algumas dificuldades, mas acabarão sendo felizes. Vai ter oportunidade de viajar muito e conhecerá todo o Brasil.

- Puxa! Tudo isso está escrito na minha mão.

Ela fez uma carinha muito séria e respondeu:

- Exatamente. Você vai ver!

Depois de pagar ele disse rindo:

- Sabe que eu também sei ler as linhas da mão?

Ela aceitou a brincadeira e estendeu-lhe a mão.

- Você tem um admirador secreto...

- E será que ele vai revelar-se um dia?

- Sim, muito em breve.

- E como é o nome dele?

O rapaz apertou os olhos, moveu a mão dela de um lado para o outro fingindo concentrar-se e respondeu:

- Só consegui ver a primeira letra, C.

Havia uma fila esperando e o chefe já estava olhando feio para ela

- Infelizmente não podemos continuar papeando, tchau!

- Fique com meu cartão. Se quiser me telefone para a gente continuar a conversa.

Nadja enfiou o cartão no bolso e só bem mais tarde foi ver o seu nome: Celso

O rapaz era atraente e ela não teve dúvida em ligar para ele.

Pretendia apenas divertir-se um pouco, pois em breve iriam embora e nunca mais o veria, mas, depois de alguns telefonemas e outros tantos encontros acabaram se apaixonando e quando os ciganos se preparavam para partir ele pediu a ela que ficasse e se casasse com ele.

Mas a família dele não aprovou o namoro, muito menos o casamento com a cigana e ela, sem dinheiro, não conseguia um trabalho para manter-se, pois não tinha uma profissão, não sabia fazer nada.

Acabou ficando na miséria e o Celso embora continuasse a amá-la não conseguia libertar-se do jugo do pai, porque dependia financeiramente dele.

Até que um dia, sabendo que sua gente estava em certa cidade próxima resolveu procurá-los para pedir que a aceitassem de volta.

Despediu-se do Celso e pôs-se a caminhar pela estrada.

Andando a pé, pegando uma ou outra carona, dormindo deitada no chão junto à estrada, mendigando algum alimento acabou chegando ao acampamento alguns dias depois.

Foi recebida com muita alegria por todos, pois ela garantia uma boa renda para o grupo.

— Temos aqui um rapaz que juntou-se a nós e é ótimo quiromante.

—Celso! Eu não acredito que você está aqui! Quer juntar-se aos ciganos, ser um dos nossos! Que loucura!

— Você nunca ouviu falar nas loucuras do amor?

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