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Publicado: Sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Lula e 2012

Não me considero cinéfilo, mas gosto de filmes vez em quando. Podemos aprender muito com a sétima arte. Além disso, a gente se emociona, ri e tem assunto para debater ou conversar com os amigos. O cinema faz parte das expressões culturais de toda a humanidade.

Esta coluna não é exclusivamente sobre cinema. Primeiro, porque limitaria muito os assuntos aqui abordados. E depois porque não sou expert no assunto, apenas mais um entre tantos expectadores. Entretanto, não há como deixar de comentar alguns filmes que causam frisson na sociedade.

É o caso de duas obras recentes: o estrangeiro “2012” e o nacional “Lula, o Filho do Brasil”. Não estranhem os leitores e leitoras o aparente atraso no comentário aos dois filmes. É que prefiro não comentá-los enquanto estão em cartaz, em respeito aos que gostam de saborear todas as surpresas do enredo.

O estrangeiro “2012” segue a linha catastrófica que tanto agrada aos norte-americanos. Basta lembrar de filmes anteriores como “Indepence Day” ou “O Dia Depois de Amanhã”. Em “2012” o mundo sofre uma mudança em seu eixo gravitacional, gerando bilhões de mortes.

Locais antes secos e no meio do continente são invadidos por ondas marítimas com até 1,5 km de altura. E lugares onde antes havia mar tornam-se secos. A Terra tem seus pólos alterados, a geografia e a topologia de todo o planeta modificam-se completamente.

Poucos se salvam: os endinheirados e os mocinhos do filme, claro. Gente que em tese não teria a menor chance de sobreviver mas, graças às peripécias do roteiro, acabam inclusive salvando o restinho de humanidade que sobra no mundo. No filme, o presidente dos EUA morre em sacrifício. Não quer abandonar a Casa Branca, deseja ter o mesmo fim que seus concidadãos.

O filme é cheio de clichês: o presidente negro que morre heróicamente; o cientista negro que descobre o fim do mundo; o pai ausente e divorciado que luta para conquistar o carinho dos filhos e o amor da ex-mulher; o militar estressado querendo cumprir ordens a todo custo; a salvação do mundo faltando dez segundos para a explosão fatal.

Mesmo assim o filme é emocionante por conta de seus efeitos especiais. As cenas de ação foram muito bem construídas. Se em um filme normal a gente devora um saco de pipocas, precisamos mastigar pipoca durante as duas horas e meia de “2012” a fim de entrar em seu ritmo alucinante.

No caso de “Lula, o Filho do Brasil”, a temática é completamente diferente. Alguns acusam o atual Presidente de fazer uma espécie de propaganda indireta com este filme, que retrata as dificuldades de sua infância. Não há como negar que a trajetória de Lula seja ótima para um roteiro de cinema. O que se questiona é lançar o filme em ano eleitoral...

Os defensores presidenciais se apressam em explicar que, na verdade, o filme é sobre Dona Lindu e suas dificuldades de mãe. Ela seria a real heroína da trama: retirante abandonada pelo marido parte para a cidade grande em busca do sustento dos filhos.

O que acontece é que no decorrer do filme Dona Lindu, que o próprio Presidente afirmou ter nascido “analfabeta e sem dentes” (igual a todos os bebês, aliás...), vai ficando em segundo plano. Não há como negar: o filme é mesmo uma apologia ao lulismo com base na biografia do Presidente. É ele o grande herói.

Concluindo: o filme não é bom, nem ruim. Os admiradores de Lula gostarão da fita. Os críticos de sua carreira política e os opositores de seu governo detestarão. Para a grande massa de pobres trabalhadores brasileiros, o filme “Lula” deve causar o mesmo efeito que roteiros baseados em biografias de famosos que venceram, como “Os Dois Filhos de Francisco” de Zezé Di Camargo e Luciano”.

Para encerrar, reproduzo uma anedota que me contaram. Perguntaram ao Presidente se ele iria assistir sua cinebiografia. Lula respondeu que não. Antes desejava assistir a “2012”. Questionaram o Presidente se era por ele temer o fim do mundo e a extinção da raça humana. Então Lula disse: “Não é nada disso, companheiro. Eu quero é saber se em 2012 a Dilma foi eleita!”.

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