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Publicado: Quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Magdalene Sisters

Crédito: corbis.com Magdalene Sisters
Peço licença a meus leitores, pra tratar hoje de um assunto bem diferente do que tenho feito nesses últimos meses.
 
Ontem durante a noite, passeando pelos canais da TV, procurando por um pouco de vida inteligente, me deparei com um filme que estava começando, chamado “Em nome de Deus”. Não resisti à tentação e comecei a assisti-lo. Não é um filme recente, foi premiado com Leão de Ouro em Veneza e estreou no Brasil em 2002. O desenrolar da trama acontece na Irlanda nos anos 60.
 
A história se passa numa época em que todas as mulheres que apresentavam alguns problemas para suas famílias, como gravidez fora do casamento, estupro por familiares e beleza eram entregues aos conventos das Magdalene Sisters, onde permaneciam por tempo indeterminado, quando não, pelo resto de suas vidas, num trabalho escravo nas lavanderias do local.
 
O roteiro narra o acontecido com três personagens centrais que, no caso, resumem o de todas as outras vivendo em sótãos, renegadas pelas famílias. Em condições subumanas, essas mulheres viviam, ou deveria dizer, sobreviviam anos a fio, até serem resgatadas por algum membro da família, fugirem ou morrerem.
 
Mesmo sem ter visto o filme, aposto que qualquer um de vocês é capaz de imaginar, a que barbaridades essas mulheres eram submetidas, trabalhando como escravas nas insalubres lavanderias durante 364 dias por ano, sendo açoitadas ao menor sinal de rebeldia, passando fome e sofrendo inúmeros maus tratos pelas madres superioras.
 
O filme é uma acusação direta à Igreja Católica na Irlanda, onde segundo pesquisei permitiu que casas como essas, dirigidas por freiras que visavam recolher jovens pobres e “pecadoras”, existissem até o ano de 1996. Conversando com um amigo e comentando sobre o filme, questionei sobre a existência de algo parecido aqui no Brasil. Disse-me que não, segundo ele o calor dos trópicos fez com que essa repressão sexual por aqui fosse mais branda.
 
O filme não tem grandes pretensões, nem no uso de efeitos especiais, nem pelo famoso elenco, não apresenta cenas de nudez, nem diálogos intermináveis, fica tudo subentendido e talvez por isso tenha me chocado tanto, essa verdade nua e crua a que, mulheres como eu, tenham vivido na Irlanda. Vejo-me aqui, tão livre, tão cheia de vontades próprias, independente, dou uma olhadela por cima do ombro e vejo num passado não tão distante, o percurso que corajosas mulheres percorreram para me garantir a suposta igualdade que tenho hoje.
 
Deixo aqui a sugestão para que assistam a esse filme. Desculpem-me pelo texto sério, tão diferente dos outros, sem nenhuma piada ou brincadeira. Mas é que assistir ao que aquelas pobres mulheres passaram na Irlanda, em nome de Deus, não teve graça nenhuma.
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