Mala extraviada
Tocou o couro da mala suavemente, escorregando a palma da mão até alcançar o puxador do zíper do outro lado. Apertou-o entre o polegar e o indicador e fez deslizar lentamente, sentindo a vibração produzida pelo cursor que ia partindo o trilho. Uma vez aberta, fechou os olhos, levantou a tampa da mala e ficou quase um minuto inteiro apenas sentindo o aroma que subia das roupas usadas, uma Vogue, um vinho e alguns souvenires. Ainda sem ver, pousou as mãos na superfície, fazendo se afundarem, e foi apalpando os tecidos; esfregando-os nas mãos. Então abriu os olhos e começou a tirar as peças, uma a uma, colocando-as na cama. Começou com as roupas e acabou nas lembranças de Santiago de Compostela. Num canto, uma tira de fotografias dessas de cabine, lhe chamou a atenção. Era parte do ritual nunca saber quem eram os donos das malas, mas a curiosidade não lhe permitiu sequer pensar sobre isso... De todas as malas que havia furtado na esteira do aeroporto, era a única que nunca quis encontrar.