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Publicado: Quarta-feira, 26 de maio de 2010

Minha fala mais profunda

Já estou um dia atrasado com meu artigo aqui nesta coluna. Cada vez que busquei o que escrever, encontrei dentro de mim um profundo silêncio. Pode-se pensar: Será que nada tenho a dizer? Mas bem pouco o nada tem a ver com o silêncio. No silêncio, não reside o nada. Reside o tudo. Se no silêncio há tudo, porque quando estamos nele nada se diz? E a resposta me parece clara: Por que tudo, é muito pra se dizer.

Em nosso silêncio está tudo aquilo que há de tão profundo e importante, nos faz calar e contemplar. No silêncio estão as raivas tão raivosas que nos assustam, os amores tão amados que nos doem. No silêncio estão nossas mais profundas compreensões sobre a vida. Aquelas que de tão profundas, tão claras e libertadoras, nos dão tamanha sensação de compreensão que desaparece toda e qualquer necessidade de compartilhar ou discutir, e assim, em uma aceitação que une corpo, mente e alma, o silêncio basta para contemplá-la e absorvê-la lentamente, no fundo do nosso ser, enquanto um pequeno relaxar dá uma sensação boa que deve ser aproveitada. Pois passará.

Se nada houvesse no silêncio, porque seria ele tão temido, tão assustador para aqueles que ainda não ousaram criar com ele certa intimidade? E mais uma vez, se nele nada houvesse, porque seria o silêncio tão valioso e querido para aqueles que já, com ele, se acertaram.

Pois como já disse uma vez por aí, quando mergulho fundo no oceano, um dos meus mais caros prazeres, percebo, do oceano, um barulho imenso, que se reverte, ainda assim, no mais profundo dos silêncios. Pois é só no silêncio que está todo o som do universo. Todo ele junto, numa sinfonia gigantesca, mas tão pura e tão harmoniosa que seu som nos é tão dócil aos ouvidos e à mente que nos é absolutamente silencioso.

Se te incomoda o silêncio é porque a mente ainda não te deixou acessá-lo. O silêncio é fundamental para a saúde. Não há diálogo sem o silêncio, como já bem disse eu por aqui.

E eu, por ter tanto em mente e tanto no coração, tomo a liberdade, pela pequena intimidade criada aqui com vocês leitores, para hoje, ao invés de discorrer muito sobre poucos pensamentos, compartilhar tudo aquilo que penso e sinto, mas fazê-lo através do pouco. Compartilho aqui com cada um de vocês, sempre tão queridos, a mais sagradas das minhas falas: o meu silêncio.

(Há no Blog uma pequena cena que escrevi há tempos sobre ele. O silêncio. Dê uma lidinha também.)

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