Modernidade
Outro dia, logo pela manhã, quando cheguei à escola para o trabalho diário, tive uma bela surpresa: liguei o computador e, logo mais, tentei acessar a Internet. Não consegui e logo pensei que havia algum problema com a minha máquina. Tentei no computador da sala vizinha e também não consegui conexão com a rede. Logo percebi que o problema era na rede da escola toda; estávamos todos sem comunicação com o mundo virtual. Até que chegasse o técnico para ver onde estava o problema, a manhã estava se encerrando. E foi assim até o início da tarde. Somente depois das quatorze é que consegui conexão.
No horário do almoço, na verdade logo após a refeição, quando eu dava uma descansada e olhava rapidamente a Folha de São Paulo, fiquei pensando um pouco no quanto minha manhã me parecia ter sido perdida ou, no mínimo, pouco produtiva. Tantas coisas que eu precisava fazer e que só poderia ter executado utilizando a Internet. Pareceu-me que algo havia sido amputado e que isso me tornava incapaz para algumas tarefas.
Esse fato logo me trouxe à lembrança os tempos de criança. Lembro-me de que, naquele período — não vou dizer quando por razões de idade — onde era a Casa Paroquial (em Itatiba), que sempre visitávamos pelo tio que era o pároco da cidade, no final do corredor de entrada, havia um bonito telefone: uma caixa retangular de madeira, um fio que saia da face esquerda da caixa e que na extremidade continha um fone preto e relativamente pesado, uma manivela na face oposta e, na frente, além de um suporte inclinado de madeira para se anotar alguma coisa, o microfone que mais parecia um pescoço de girafa, onde falávamos com o interlocutor do outro lado da linha.
Depois, vieram os telefones de mesa, pretos, creio que com manivelas também. Ambos necessitavam do auxílio das telefonistas. Lembro-me vagamente de que conseguir uma ligação interurbana era um parto para os nossos pais. Bem mais tarde, vieram os telefones de mesa com aquele disco central, esses já não tão antigos. Logo depois os de teclas e assim por diante. Vieram depois os sem fios e mais tarde aqueles celulares que mais pareciam um tijolo negro, até chegarmos nessa era dos celulares dos mais variados tipos e que fazem de tudo um pouco, além de permitirem a comunicação à distância.
De computadores então, nem se fala. O primeiro com o qual trabalhei era um XT, depois vieram os ATs 286, depois os 386 e assim por diante. Recordo-me também da felicidade quando comprei o primeiro Notebook. Hoje, aquele velho Pentium está quebrado aqui em casa e nem vale a pena mais arrumá-lo. Além disso, não é um Pentium e sim um “Lentium”, como nos referimos a essas máquinas antigas, dada à baixa velocidade do equipamento. Quando comecei a mexer com informática, operando o velho XT, a plataforma Windows ainda nem era projeto. Lembro-me de que operava com um editor de texto “Word para DOS”. E eu achava aquilo maravilhoso, a última novidade em termos de informática. E meu velho pai, ainda naqueles anos, e depois também, gostava mesmo era da sua antiga Remington. Só muitos anos depois é que ele comprou uma máquina de escrever que tinha uns recursos mínimos de programação. Alguns meses antes de falecer ele se rendeu aos computadores. Mas, creio que a doença só permitiu que ele jogasse um pouco de Paciência utilizando o micro que hoje está numa das salas da minha escola.
É isso, criamos nossas próprias armadilhas.