Mudanças e Inovações
Mudanças e inovações.
Elas se atropelam. Umas a querer ir na frente das outras.
Mas seriam sempre válidas?
Será?
A evolução, de modo geral, cria hábitos e situações novas e, ao mesmo tempo, faz cessar ou diminuírem acentuadamente práticas boas e muito ao gosto do público.
Fosse hora de arrolar tantas dessas circunstâncias, a crônica sairia de seu tamanho costumeiro por estender-se em demasia.
São essas circunstâncias, entre outras causas, que transformaram o domingo das pessoas, principalmente à hora do almoço, na busca da praticidade em não se mexer na cozinha para preparar a tradicional macarronada e, mais ainda, em não ter pratos e talheres por lavar. Em compensação, aquele quadro de familiares satisfeitos, risonhos e comunicativos á volta da mesa, não existe mais.
Após o almoço, uns dormem, muitos aguardam o futebol e uma imensidão se refestela no sofá a ver Gugu, Faustão e assim chega o final da tarde, para logo mais se escutar aquela chamada musical altamente depressiva, a do Fantástico.
Sente-se saudade e muita falta das noites de sábado, em que em algumas igrejas se celebrava aquilo que o povo chamava de “reza”, a culminar com a bênção do Santíssimo. Ressoava nas igrejas o canto do “Tantum Ergo”, isso mesmo, em latim. Que emoção! E não emoção vazia e só de sentimentalismo. Alegria, prazer, consciência e júbilo, de reverentemente curvarem-se homens e mulheres por acreditarem em Jesus Cristo presente na Hóstia consagrada.
A compunção, o recolhimento, o respeito iam ao ponto de que as pessoas se ajoelhavam frente à mesa de Comunhão, as senhoras invariavelmente de cabeça coberta com véu.
Qual a casa que não tinha em lugar de destaque os quadros do Coração de Jesus e de Maria, mediante entronização presidida pelo sacerdote e com liturgia própria? Pelo interior, Brasil afora, ainda se veem tais quadros. Tão bela a cerimônia, seria mesmo de se retomar esse piedoso costume.
Atualmente, o ambiente selecionado é a sala de televisão. Que o seja. Mesmo assim não impediria que se instalasse outro ponto na casa para os quadros e a devoção da família. É que o horário das novelas atrapalha demais, por começarem logo a partir das dezoito horas. Isso para quem antes já não se apega a histórias da juventude estudantil em Malhação. Olhe o título do programa!
Cadeiras na calçada, vizinhos que se ajudavam mutuamente, longos papos, descontração e sinceridade, visitas entre famílias, nas quais filhos acompanhavam os pais. Não há mais tempo para isso tudo.
E viajar de trem pela Sorocabana! Que folia para a garotada. As demoradas baldeações em Itaici e Mairinque. Os chefes e funcionários garbosa e impecavelmente uniformizados.
A droga não campeava entre os menores. Deliciosas peladas com bolas de “capotão” em terrenos baldios. Assim o era no mesmo local em que hoje se erige a concessionária Volkswagen. Outro local muito procurado, era toda a extensão do terreno sem muro, sobre o qual depois foi construído o Salão da Imaculada, Colégio do Patrocínio. E outros pontos na periferia.
Segunda feira á noite, encontro geral no inesquecível Cineminha do Carmo, anexo à Igreja, recepcionadas as pessoas sempre por um frade carmelita.
Caberia ao menos que os cidadãos conscientes se compusessem para evitar que, inadvertidamente, se vejam engolfados por mudanças impositivas, mas em nada justificáveis.
Cumpriria selecionar melhor o dia a dia.
Estabelecer prioridades e não se curvar a qualquer aceno.
Afinal, a gente é gente.