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Publicado: Sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Mudanças no Clero: Certo e Errado

Até o primeiro bimestre de 2009, uma série de mudanças estão previstas no clero ituano. São padres que deverão sair de suas atuais paróquias a fim de assumir novas missões em outras comunidades da Diocese de Jundiaí. Padres são figuras públicas e por isso mesmo muito queridas por um grande número de pessoas. É normal que, chegado o período de mudanças, muitos fiéis sintam-se insatisfeitos e tristes com o clima de despedida.
 
Há quem pense que a decisão de tirar um sacerdote daqui, para alojá-lo acolá, tenha por motivo algum castigo ou reconhecimento. Não é por aí. Seguindo as necessidades pastorais da Igreja, os bispos têm necessidade de fazer mudanças periódicas em relação ao clero e as comunidades. Trata-se de uma decisão de caráter administrativo, pastoral, espiritual e missionária, para o bem do Povo de Deus, frente a circunstâncias que vão surgindo.
 
Embora os bispos tenham o poder de realizar tais transferências por si só, normalmente eles consultam o Conselho Presbiteral, tomam opiniões com outros sacerdotes e tratam o assunto previamente com os que serão transferidos, verificando se eles têm alguma objeção plausível. Assim tem agido dom Gil Antônio Moreira, nosso Bispo Diocesano, sempre com muita paternalidade tanto em relação aos padres como em relação às comunidades.
 
Foi-se aquele tempo em que um padre permanecia duas ou três décadas à frente da mesma comunidade. O mundo moderno exige uma dinâmica diferente. Mudar é preciso, pois o sentimento de mudança traz renovação e aprimoramento. É assim na vida: de vez em quando é necessário mudar algo para obter um crescimento pessoal ou tirar mais satisfação do que fazemos.
 
Na vida da Igreja e das comunidades, também é assim. A substituição dos párocos traz a oportunidade de que, com seus diversos dons e maneiras de liderar os fiéis, os sacerdotes possam melhorar sempre mais o trabalho pastoral e contribuir para um serviço que não cessa nunca, graças à ação do Espírito Santo.
 
Infelizmente, o povo tem a irritante mania de achar pêlo em ovo. As mudanças no clero são acompanhadas de tititis nas paróquias. Procura-se uma razão excepcional para algo que é muito natural. Parece que uma parcela dos fiéis acredita em teorias conspiratórias e segredos de bastidores, em vez de enxergar a dinâmica da vida da Igreja como parte da Providência divina.
 
É errado mandar cartas e abaixo-assinados solicitando ao bispo que “não tire o Padre Fulano daqui”. É errado trocar de paróquia, deixando de lado a comunidade na qual participa a fim de seguir o sacerdote que foi transferido. É errado condicionar a prática da fé a este ou aquele padre, pois todos representam em seu ministério o único e verdadeiro sacerdote: Jesus Cristo.
 
É errado não permanecer na paróquia de origem para acolher o sacerdote que chega. Também ele está em nova missão, enfrentando o desafio das novidades em meio a um povo que ainda não conhece. É errado fazer comparações, por mais inocentes e “bem intencionadas”, já que cada um tem seu estilo. É errado ser antipático ao padre recém-chegado, até mesmo uma falta de caridade com o próximo.
 
Sim, também é errado o novo padre sentir-se o “todo-poderoso”. Ele deve ser humilde e aberto para conhecer o funcionamento da comunidade. Ele deve estar atento ao que precisa ser modificado por questões pastorais e ao que não passa meramente de capricho pessoal. Deve ouvir a comunidade, dedicar-se com amor e fidelidade na condução dos fiéis. Deve ser exemplo para todos os que passarão a conhecê-lo no cotidiano e nos eventos da paróquia.
 
Quando ingressei na Igreja, foi na Paróquia de Nossa Senhora da Candelária, em Itu. Monsenhor Camilo Ferrarini era o pároco de então. Depois dele, aprendi a conviver com sacerdotes muitíssimo diferentes entre si: Frei Clemente Costa Neves, Monsenhor Antonio Spoladori e Monsenhor Durval de Almeida. Alguém duvida que essas figuras, com seus méritos e limitações, são muito diferentes entre si? Pois foi um grande aprendizado conhecer cada um, poder ajudá-los na comunidade, saber respeitar sua autoridade, compreender seus defeitos e mesmo assim admirá-los pela decisão de entregar a vida à causa do Evangelho.
 
Ter um novo pároco deve ser motivo de alegria para a comunidade, não motivo de desconfianças e incertezas. É a oportunidade de encarar um desafio: o de continuar caminhando nas estradas da vida, cultivando uma amizade a mais. Sim, nem tudo é alegre e colorido nessa jornada. Mas nesses momentos é preciso usar a caridade e a compreensão, estando aberto ao perdão e ao diálogo.
 
Vale uma última lembrança: padres são seres humanos, não super-homens. São feitos de corpo, mente e espírito, como qualquer um de nós. Saibamos tratá-los devidamente, para também poder receber deles o tratamento que merecemos como pessoas e como fiéis.
 
Amém.
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