Museus, parques e crianças
Um dos muitos locais de Tokio, próprios para a população se esconder um pouco do sol inclemente de agosto, é a região conhecida como Roppongi Hills. Acham-se, nessa área imensa, lojas da mais alta grife, restaurantes e também bares para lanches simples e bebidas. Tanto se é servido dentro como na própria parte externa, com mesinhas à sombra. E sombra de árvores.
O Jardim Japonês, que compõe a ambientação, praticamente se confunde com a calçada. Estilizado a rigor, foi implantado em terras pertencentes a um senhor feudal, tempos remotos em que essas autoridades dispunham de todos os poderes e controlavam impostos, ordens e costumes. O Japão ainda não estava organizado politicamente.
Chega de algum lugar bem perto um som maravilhoso, de músicas clássicas, gravação de orquestras internacionais.
Mais das três da tarde, cuidei então de almoçar aqui, uma vez que a manhã inteirinha estive no “Museo Edo-Tokio”. Voltado para a arte e história, matéria recheada, ao se tratar de uma nação várias vezes milenar. Tudo de surpreendente que ali se expõe envolve as mais remotas obras, arte e costumes. Algumas casas típicas estão em tamanho natural, com figuras humanas no seu interior, tão perfeitas, que parecem vivas. As miniaturas também expressam muito da vida dos ancestrais. Impressiona a da Igreja de São Nicolau, da Igreja Ortodoxa russa, destruída na guerra. A guia do Museu informou que no mesmo lugar um novo templo, porém menor e mais simples, a substitui atualmente.
E assim, aos poucos, se esvai mais um dia nesta metrópole grandiosa emtodos os sentidos.
Daqui a pouco vou descer calmamente por uma rua estreita, de comércio ativo de pequenos estabelecimentos. Existe de tudo para ser visto. E para comprar; a quem possa fazê-lo, obviamente.
Ao final dessa quase viela tortuosa, devo chegar à Estação de Azabu-juban, na qual embarco a fim de voltar à Hiyoshi, meu refúgio, próximo de Yokohama.
Até aqui, nesta crônica, houve referência, pois, a fatos vividos hoje, dia 3 de setembro.
Urge entanto comentar também o programa cumprido ontem, dia 2.
É muito famoso o conjunto arquitetônico da chamada Estação de Tókio. Construída, bem ao lado da antiga, a atual, moderníssima, sem se demolir nada em relação à anterior, aliás contígua, no exato sentido do termo. Da dita velha estação, conservou-se e foi recuperada, mantido o mesmo estilo de tijolos aparentes, toda a face externa. A depender do lado que se chegue, é essa a visão da estação de Tokio. Entretanto, por dentro, o velho prédio se transformou num luxuosíssimo e requintado hotel, de instalações moderníssimas e finas. Saí maravilhado de lá, percorridos o piso e o primeiro andar, área liberada à visitação. Um esplendor. E se explica e se entende essa circunstância, porque o núcleo todo toma igualmente uma feição de museu.
No período da tarde, nesse mesmo dia 2, foram percorridos os arredores do Palácio Imperial, através de demorada e exaustiva caminhada. O Palácio é todo rodeado de uma espécie de canal bem largo. Seu acesso é vedado ao público. Já ao alcance e desfrute do povo, distante do portal de entrada, essa área frontal é vastamente precedida de imensos jardins, com grama rente, limpa e macia. Não faltam, poucas embora, pessoas que descansam em meio a tantas árvores típicas, daquelas contorcidas ao extremo, de efeito bucólico notável, cuja denominação não conheço, pobre em botânica que sou.
Em seguida, mais outro jardim ou, mais propriamente, o parque Hibia. Ao lado dele a avenida por onde passa a tradicional maratona de Tokio, todo 2 de janeiro, debaixo de um frio cortante. O jardim, bom que se diga, é muito lembrado pelos japoneses, porque ali, num palco de alvenaria em estilo romano e com espaço provido de bancos fixos em grande quantidade, apresentou-se Tom Jobim, acompanhado de vocalistas, ao que consta em 1980. Não é por acaso que, curiosamente, a música brasileira é alegremente celebrada e cantada por aqui. Em Tokio, no dia 31 de agosto, desfilam autênticas escolas de samba, há mais de vinte anos.
De complemento, pode-se passear de barcos leves num belo lago, ali mesmo.
Para findar, um registro , observação constante desde a chegada, que já deveria ter sido feita: o encanto das criancinhas japonesas; elas fixam o olhar na gente e quase todas (há exceções!) se abrem no mais puro dos sorrisos. Aquelas que já começam a falar, se lhes acene alguém com as mãos, balbuciam um simpático “bye, bye” – com gesto e tudo – para responder ao seu cumprimento.
Um encanto natural e inocente, misturado com doçura.