Publicado: Sexta-feira, 7 de setembro de 2007
Música ao longe
Não sei se existe alguém que seja imune ao poder da música. Porque esta arte é tão ampla, que vai desde o mais sensível cantar do bem-te-vi até o guerreiro poder do rock´n roll.
Descobri que grandes mudanças na minha vida foram precedidas pelas músicas que cantei. Como se cada canção anunciasse a mudança de uma estação.
Com minha professora de canto, aprendi que a boca é o atelier do som. Aos poucos, vou descobrindo que em meu corpo habitam sons de pássaros e flores, raios e trovões, chuva fina e tempestade.
Percebo que os sons são quase tão infinitos quanto as possibilidades do viver: cada combinação sugere novas histórias e em cada desafino mora uma oportunidade de aprimoramento.
A música habita não apenas o meu ser, mas todo o universo. O som é a primeira manifestação de presença, embora o silêncio seja também seu companheiro inseparável. Afinal, um não existe sem o outro. A música é basicamente uma sucessão de sons e silêncio organizada ao longo do tempo.
É bem possível que a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. E apesar de não existir um critério científico que mostre seu desenvolvimento de forma precisa, sabe-se que a história da música confunde-se com a própria história do desenvolvimento humano. Não sabemos, realmente, se o homem existiu algum dia sem a música. O que se sabe é que há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história.
O som está em todos os lugares. E sua combinação infinita faz nascer a música em todos os cantos da terra. Cada som traz a expressão da vida, nas suas dimensões, com todas as cores. E cada música tem sua utilidade e presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais.
Da água rompe o choro do bebê que nasce; da raiva explode o grito abafado; da dor expande a súplica; dos enamorados surge o som do prazer. O estalo do beijo transborda carinho; a risada convida à infância; a água descendo o rio acalma a viagem; e o aviso da águia acorda os sentidos.
Não importa muito com qual som nos irmanamos. Afinal, assim como as árvores, nós também enraizamos folhas, frutos e flores diversas. Não importa qual seja a nossa música. Pois, assim como os pássaros, nós também alçamos vôo para lugares distintos e cantamos histórias graves e suaves.
Apenas sei que o som está. O som é. Ele não depende de nós para existir. Mas ao mesmo tempo, quando permitimos sua passagem e manifestação, ele agradece e engrandece nossas alamedas. Quem canta ou toca um instrumento sabe que a vida pode mudar de cor em questão de segundos. Mesmo ouvindo, apenas ouvindo...
A música ao longe, que sempre me acompanhou, rasgou o véu que me separava de sua presença. Hoje não existe distância, porque descobri que eu sou música. Não há como ficar distante, se eu estiver perto de mim. Música é existência, freqüência, conexão. Música é a língua dos anjos, da alma e da expansão.
Longe da música...longe do coração.
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