Colunistas

Publicado: Domingo, 3 de dezembro de 2006

Mutação Constante

Mutação Constante
     Cerca de quatro séculos antes de Cristo, o filósofo Heráclito disse que o homem não consegue entrar duas vezes no mesmo rio: porque ele já não seria o mesmo, tampouco o rio. Mais ou menos o que estou pretendendo dizer. Diariamente nosso ser está sendo modificado, num processo que se poderia chamar de envelhecimento. Não percebemos nada, pois as modificações cotidianas são ínfimas e só nos damos conta do acontecimento quando as observações se realizam após certo decurso de tempo. Quanto mais longo, mais claras as percepções. Daí decorrem inúmeras reflexões.

     Está havendo como quê uma revolução total. Em quase tudo há constante modificação, como se esse fator “diferente” se tornasse absolutamente necessário. Vejo minha neta estudar para uma das provas do curso de Direito e constato que os livros são novos, autores que, de discípulos passaram a mestres e doutores, os próprios códigos com outras apresentações e outros comentaristas.

     O melhor é ficar calado do que abordar algum tema ‘à lá antiga”. Todos estão entretidos com seus afazeres e essas ocupações seguramente se destinam  a proporcionar alegria de viver, na suave ampulheta do tempo...A comunicação que o saudoso Chacrinha, relembrava em seus festivos programas da incipiente tevê, também se transmudou, a ponto de , nem nas próprias famílias, sobrar algum tempo para os importantes diálogos e conversações íntimas...

     Hoje, nos lares, imperam as conversações eletrônicas motivadas pelo absoluto domínio da televisão que, insensível tirana, impõe o seu reinado das novelas, dos noticiários, dos jogos de futebol, das mais fantásticas e degradantes programações, etc., etc., despersonalizando o homem, a mulher, e prejudicando a educação da criança e do adolescente.

     Há tempos atrás, antes de implodir essa faceta da involução humana, parece que havia maior congraçamento das famílias, das pessoas, da própria sociedade. Na atualidade, no evolver constante dessa  corrente evolutiva de modernização, na desenfreada luta pela conquista do dinheiro, bem considerado absoluto, supremo e único para  grande maioria, os valores morais que engrandecem e nobilitam o homem, se encontram irremediavelmente postergados.

     Estamos pagando o preço dessa subversão de valores, desse progresso globalizado que alcança apenas pequena minoria, deixando a maioria totalmente alucinada e inconformada. Acredito que, nessa marcha perversa, inconseqüente, séculos passarão no desencontro do verdadeiro progresso de realizações,  com  harmonia,  felicidade , paz. Não nos encontramos suficientemente esclarecidos e convictos de que, enquanto não nos inteirarmos profundamente da nossa filiação e herança divinas, não desfrutaremos da ventura e da paz.

Comentários